Setores que competem entre si e têm dificuldade de trabalhar em equipe. Profissionais que ao invés de serem parceiros vivem medindo forças nas reuniões e se desrespeitando por meio de palavras, gestos e comportamentos. Líderes incapazes de entender e dialogar de forma harmoniosa com seus liderados. Alguma dessas situações lhe parece familiar? Conflitos no ambiente organizacional sempre vão existir. No entanto, é importante entender que há formas construtivas de lidar com as desavenças, de se comunicar com os outros e trabalhar em sintonia por objetivos comuns.
Uma das maneiras é a comunicação Não-Violenta (CNV). Criada pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, na década de 60, a metodologia se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. Nossas palavras, em vez de serem reações repetitivas e automáticas, tornam-se respostas conscientes, baseadas no que estamos percebendo, sentindo e desejando. Somos conduzidos a nos expressar com honestidade e clareza, dando ao outro uma atenção com respeito e empatia. “O desejo é que na troca do processo de comunicação consigamos observar cuidadosamente os comportamentos e as condições que estão nos afetando, aprendendo a escutar as nossas necessidades mais profundas e também as do outro”. É o que explicam as especialistas em desenvolvimento humano, Beatriz Delgado, Helma Neves, Hévila Correa, Solange Nogueira e Thamara Santiago.
As profissionais dedicaram-se ao tema por meio do Grupo de Estudos Projetar, analisando, sobretudo, o valor da proposta dentro do ambiente organizacional. Para elas, trabalhar em uma empresa que valorize a Comunicação Não-Violenta e que favoreça que as pessoas se descubram e se encontrem como seres humanos é o sonho de todos que atuam no mundo corporativo. Mas, elas ressaltam que, apesar de profundamente transformador, o processo ainda é desafiador.
“Essa forma de comunicação desarmada requer organizações também desarmadas, sem muito jogo de poder e conflitos de egos inflados. A empresa precisa ter uma cultura que prestigie valores humanos e éticos muito acima do jogo político de interesses e lucro financeiro. Cabe, portanto, a cada organização construir e insistir numa cultura que reforce valores e ações que efetivamente acredita e quer manter, pois sabemos que, se a empresa não valorizar a comunicação como linguagem de compaixão, provavelmente as relações interpessoais não acontecerão segundo os pressupostos da CNV”, esclarecem as profissionais.
Corroborando com as especialistas, a coach e consultora organizacional da Dasein Executive Search, Adriana Matta Machado, destaca que a Comunicação Não-Violenta é um caminho bem desafiador, mas possível. “Inserir novos valores e, neste caso, valores que demandam grandes mudanças comportamentais para alguns, pode representar um longo caminho”. Ela explica que as pessoas são modeladas pelos que as cercam e vice-versa, então, basta que poucos adotem novos comportamentos para que logo suas equipes e aqueles que interagem com eles aprendam para gerar mudanças positivas em boa parte da empresa.
“Os desafios impostos às organizações atualmente não serão superados sem uma gestão diferente do que era feita até pouco tempo atrás. Inovação, redução de custos, projetos e melhorias de processos exigem relacionamentos entre funções e, claro, pessoas. Autoritarismo é incompatível com a necessidade atual e, portanto, a CNV é fundamental”.
CNV na prática
Para que a Comunicação Não-Violenta possa ser desenvolvida e vivida dentro das organizações, as especialistas do grupo Projetar ressaltam que é preciso estar disposto a investir em um processo de autoconhecimento. “Quando a pessoa se conhece, naturalmente, ela consegue estabelecer uma melhor comunicação consigo mesma. Essa condição é fundamental, pois permite que a pessoa se perceba dentro de diversos contextos de forma crítica e construtiva, favorecendo uma atuação profissional consciente e madura”. Elas destacam ainda, a necessidade de desenvolver quatro componentes essenciais. São eles:
- OBSERVAÇÃO: Difícil, mas não impossível. Observe os fatos de maneira descritiva sem julgar ou criticar.
- SENTIMENTOS: Identifique e expresse com honestidade o que você sente em relação ao que observa: frustração, tristeza, insegurança, irritação etc. Ao nos permitirmos ser vulneráveis por expressarmos nossos sentimentos, ajudamos a resolver conflitos e criamos empatia.
- NECESSIDADES: Reconheça as necessidades que estão por trás de seus sentimentos. O que os outros dizem e fazem pode ser o estímulo, mas nunca a causa de nossos sentimentos.
- PEDIDO: Faça um pedido concreto para que a ação encontre a necessidade identificada. Peça de maneira clara e específica aquilo que você quer em vez de dar dicas ou afirmar apenas o que não deseja. Para que o pedido seja realmente um pedido, e não uma exigência, permita que a outra pessoa diga não ou proponha alternativas.
Beatriz Delgado, Helma Neves, Hévila Correa, Solange Nogueira e Thamara Santiago sublinham que os quatro passos auxiliam positivamente os processos de avaliação de desempenho e feedback, por exemplo. “Momentos em que, muitas vezes, surgem grandes conflitos entre os indivíduos nas empresas e, mais especificamente, entre os líderes e os liderados. Uma prática verdadeira da CNV favorece uma diminuição significativa desses conflitos, já que incentiva uma comunicação clara, transparente, assertiva e verdadeira entre as duas partes”.
As especialistas ainda reforçam que “um líder que consiga desenvolver a sua equipe fazendo valer esses componentes da CNV, conquistará resultados positivos para a organização e terá, com certeza, uma equipe de alta performance em suas mãos”. Ao reduzir os ruídos e conflitos, a Comunicação Não-Violenta também garante “melhor fluidez dos processos, melhores entregas e um ambiente de trabalho mais saudável”, completa a coach Adriana Matta Machado.