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O que eu aprendi com a música?

Por Rivadávia Drummond*

O ano era 1995 e estava decidido a montar a melhor banda de pop, funk e soul de Belo Horizonte. Já acumulava experiência como músico tendo passado por vivências que muito me marcaram na cidade, como Markão & Banda, no Western House Neon, Cia. Supertramp, no Mr. Beef, Geraes Big Band, da Escola de Música da UFMG, e Orquestra Sinfônica de MG, no Palácio das Artes.

Montar o time dos sonhos requeria competências ímpares de relacionamento, além do entendimento de que quaisquer organizações – até mesmo orquestras e bandas de música – são arenas políticas (já assistiu ao filme “Ensaio da Orquestra” do Fellini?). No meio musical, os bons relacionamentos começam com o reconhecimento dos outros de que você é competente como músico e transita bem pelos mais diversos ambientes.

Minha escolha do time foi cirúrgica: três cantores, um naipe de sopros (sax, trompete, trombone), contra-baixo, teclado, guitarra e bateria (eu era o baterista). Mal sabia que já virara um “headhunter” ao pegar o carro e dirigir para tudo quanto é lugar da região metropolitana de BH para conversar com talentos. Eu me lembro de bairros que nunca tinha ouvido falar, igrejas e religiões que desconhecia e casebres que duvidava ser possível viver tanta gente junta. Dai era preciso vender o meu sonho, contar a história mil vezes (sim, quem conta um conto, aumenta um ponto!), mostrar para onde o sonho nos levaria e como chegaríamos lá.

Rivadávia Drummond é professor na WP Carey School of Business da Arizona State University (EUA).

Fracassos e sucessos, o time estava recrutado. O novo problema a me golpear era o velho dilema econômico de “desejos ilimitados e recursos escassos”. Boa parte dos músicos não tinha a grana para investir ou não sobrava renda extra para cobrir todos os custos envolvidos. Como todo empreendedor, tirei dinheiro do bolso e investi também incontáveis horas de trabalho que compreendiam desde ensinar inglês para os cantores, a buscar patrocínios para ajudar no custeio.

Consegui então quem patrocinasse o figurino da dança, o site da banda (raro e caro na época), a academia de ginástica e até mesmo uma coreógrafa para ensinar alguns passos de dança para todos os robôs envolvidos. Não obstante os exaustivos ensaios semanais, o reforço ao trabalho em equipe e a administração de alguns “comportamentos de diva”, ainda faltava o principal: uma boa agenda de shows para tranquilizar a moçada com a certeza de que haveria dinheiro no bolso de todos. Consegui fechar uma temporada numa casa em alta em BH à época, o Circuito Circo Bar.

Inúmeras lições me vêm à mente enquanto escrevo estas linhas. Vitórias e fracassos, inúmeros erros e aprendizados: a necessidade é realmente a mãe de todos as invenções. Aprendi no amor e na dor sobre liderança, relacionamento, gestão de talentos, trabalho em equipe e articulação política, dentre inúmeros outros tópicos que não caberiam nestes parágrafos. Houve momentos de euforia e de estar realizando algo grande, me regozijava ouvir o sonzaço daquele timaço tocando junto. Outros momentos eram de profundo desânimo e de estar sozinho remando contra a maré. Não é essa a vida de um empreendedor? Pois é, nenhuma escola ensina isso dessa forma.

A banda acabou pouco mais de dois anos da sua criação, atropelada por novas tendências musicais como o pagode e o axé que rapidamente – e ad nauseam – consumiram a preferência dos frequentadores dos espaços de música ao vivo. Durante esses anos como músico também dei aulas de música para pagar as contas e até hoje me impressiono como isso apurou a minha didática e compreensão de múltiplas pedagogias. São competências nas quais me fio hoje como pai, professor, executivo e conselheiro.

Contudo, falta responder a pergunta com a qual sou sempre defrontado: “O melhor da experiência com a música?” Respondo sem tergiversar: depois de um tempo na banda, a cantora original não aguentou a pressão e resolveu largar a empreitada. Na contratação e seleção da nova cantora, acabei encontrado o “love of my life”, minha parceira no crime desde 1996, Carem Rocha Soares. E você, o que aprendeu com as artes?

*Pós-doutor pela Faculty of Information Studies da Universidade de Toronto no Canadá, doutor, mestre e bacharel pela UFMG. Membro do Conselho de Administração da Vitru Ltd (Nasdaq/VTRU), clinical professor na W P Carey School of Business da Arizona State University (EUA) e associate professor na Universidade Politécnica de Hong Kong.

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