A polarização dentro dos nossos muros é insolúvel?
*Por Luciana Vianello
A polarização é um fenômeno da nossa sociedade atual. É percebida principalmente quando ganha os holofotes dos cenários públicos e exposições acaloradas como acontece nos seguimentos da política, religião e esportes.
Mas esse fenômeno não é típico dos cenários que envolvem as grandes massas, pode estar presente nas organizações, nas relações interpessoais, e impactar a jornada da tomada de decisão, e o fluxo necessário para atingir os resultados. Pode ser fomentado por tensões diante de paradoxos aparentemente insolúveis, e criar desconexões entre os grupos, minando os cenários cooperativos com resistências defensivas e agendas ocultas, uma ameaça a cultura da confiança.
Sobre esse fenômeno, é valido recrutar a lei da Hermética, que infere que a polaridade é parte do todo, e percebida como um ciclo vivo que revela polos extremos de algo. Considera ainda, que tudo seja duplo, dual e que as polaridades são forças de um mesmo efeito, sob equilíbrio sustentado. Essa lei se aplica a diversos elementos paradoxais, mas que compõem o todo, como as distinções noite e dia, frio e calor, expansão e retração.
Lidar com os extremos
Contudo, a maneira como lidamos com essa dualidade nas nossas conexões, pode revelar um padrão de pensamento distorcido dessa lei universal, e o resultado é a manifestação de uma cisão entre os grupos, com um modelo de linguagem que reforça não a completude, mas, sim a separação.
Lidar com os extremos de forma divisiva, revela uma limitação na tentativa frustrada de compreender o mundo e julgá-lo de forma binária, onde só é possível responder e agir sob a tônica do certo X o errado. Nas organizações temas como inovação são percebidos como ameaça à tradição; flexibilidade X controle; a hierarquia X liderança empática; entre tantos.
Por detrás deste padrão, há sistemas de defesa ativos, e necessidades, e valores individuais e coletivos não atendidos. Essa é uma premissa para atuar neste cenário ambíguo. Investigando o que está por detrás dos conflitos e tensões. Enquanto a liderança não fizer a leitura correta deste campo, provavelmente alimentará esse sistema complexo, provocando competitividade feroz e disputas desleais de uns contra os outros, ferindo os valores da própria cultura.
Assim, fazer a gestão da polaridade é um desafio e uma competência para a liderança. Para tal, vale considerar 4 passos:
1-Buscar a convergência, lidando com a diversidade sem distinções, com espaços de interlocução e escuta.
2-Envolver a todos e eleger benefícios e desafios de cada um dos eixos, bem como, a frequência com que eles se apresentam e sustentam o negócio.
3-Trazer a perspectiva da coexistência desses valores, e enfatizar a relevância do ganho, onde todos se beneficiam.
4-E construir um plano de ação equânime para acionar os elementos positivos de cada um dos polos.
Só se torna insolúvel o que não compreendemos, mesmo que seja grande. A viabilidade surge com lideranças protagonistas para mapear, e agir com assertividade.
Luciana Vianello é mentora em competências comunicativas, palestrante, professora e doutora pela UFMG.