Voe alto
Costumamos estacionar em lugares que chamamos de zona de conforto. Mas não porque a realidade destes lugares seja, de fato, agradável. Mas sim porque preferimos os desconfortos da realidade que conhecemos a arriscar a mudança. Temos medo de dar o nosso melhor e falhar mesmo assim. Temos medo de descobrir que o nosso melhor não é bom o suficiente. Portanto, permanecemos imóveis, evitamos o desconhecido, não queremos chamar atenção.
Olhamos para a vida daqueles que admiramos como se fossem parapentes plainando em céu azul. Mas, por mais que desejemos voar nas alturas, não nos sentimos seguros o suficiente para saltar. Os pensamentos que nos paralisam são de dois tipos. “Não sou bom o suficiente” é o que te mantém sentado. Mas, quando você finalmente decide dar o primeiro passo, “quem você pensa que você é?” é o pensamento que te faz sentar de novo.
Sentado você pode desistir e concluir que o seu sonho não é para você. Ou então, você pode decidir se preparar melhor. Isto normalmente significa se inscrever em outro curso, aumentar as reservas, elaborar outro plano. Afinal de contas, você acredita que quando estiver bem-preparado, vai conseguir superar o medo e, então, saltar. Mas, o tempo passa e você percebe que, por mais que você se prepare, o medo nunca vai embora. Quanto mais você aprende, mais entende que há muito que não sabe. Você nunca será perfeito e seu plano nunca será infalível.
Veja, o medo tem uma função. Ele te faz checar os equipamentos, repassar o plano. Mas é importante perceber quando estamos paralisados por medo dos riscos naturais de uma trajetória. Eu sei que tem uma voz que te diz que as suas imperfeições são provas de que o seu melhor ainda não é bom o suficiente. Mas, se pensarmos em nossas vozes internas como personagens, mora em cada um de nós um crítico rigoroso e completamente iludido sobre a natureza humana. Este crítico se recusa a entender que as quedas existem em todas as trajetórias. E é por isso que ele costuma idealizar os lugares que você não está.
O crítico fantasia que as pessoas que plainam seus parapentes são mais talentosas do que você. Mais do que isso, ele supõe que estas pessoas não caem, não esfolam os joelhos, não são arremessadas pelo vento de tempos em tempos. Mas saiba que as pessoas que plainam também sentem medo, e falham miseravelmente. Não existe receita mágica.
Quando você está paramentado no topo da montanha desejando voar você tem duas escolhas. A primeira delas é o salto. Se você saltar, certamente vai se esfolar e vai ser arremessado em direções indesejadas de tempos em tempos. Por outro lado, saltando você também vai aperfeiçoar a sua técnica, terá a chance de plainar e aproveitar a vista. A segunda escolha é permanecer estacionado na zona de conforto. Mas saiba que parado você nunca colherá os frutos que deseja. Ou seja, por mais que este lugar te pareça seguro, a verdade é que seus pés estão agarrados a um solo em erosão. Parado você está caindo também, embora lentamente e sem a possibilidade de voar.
Adriana Drulla é escritora, professora e terapeuta. Tem mestrado em Psicologia Positiva pela University of Pennsylvania (EUA) e pós-graduação em Terapia Focada na Compaixão pela University of Derby (Inglaterra).