Cultura e estratégia: pilares do melhor que as organizações podem fazer pela sustentabilidade
*Por Vera Lúcia Silva
Falar de ESG é falar da nossa coexistência no mundo, é defender a vida segura e saudável para nós e para os que virão depois de nós. É pensar que a capacidade de regeneração da natureza não será bastante para se autossustentar, se as pessoas não mudarem conceitos e comportamentos e se os modelos produtivos não revirem imediatamente seus padrões de governança e seu compromisso com o desenvolvimento socioambiental do planeta. Mais ainda: como cada empresa é uma célula que se interconecta com o organismo vivo que habitamos, as organizações precisam considerar sua cadeia de valor, estendendo a urgência da gestão sustentável a clientes, fornecedores, prestadores de serviço e comunidades.
Quando o termo ESG surgiu, publicado em 2004, no relatório Who Care Wins (“Ganha quem se Importa”, em tradução livre), do Pacto Global da ONU e do Banco Mundial, o objetivo era engajar empresas e organizações na luta pela adoção de princípios para melhorar o meio ambiente e a vida das pessoas. De lá para cá, a pauta se expandiu e temas relacionados a direitos humanos, como a diversidade, a equidade e a inclusão ganharam destaque no meio organizacional. Com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, as instituições têm ainda mais elementos para buscar essa transformação sociocultural capaz de favorecer a solução dos problemas mais críticos do nosso tempo, enquanto alavanca negócios e gera resultados consistentes.
Nosso trabalho na Samarco reverbera o propósito de seguir fazendo uma mineração diferente e sustentável, capaz de gerar resultados e construir valor para sociedade. Para isso, assinamos uma Declaração de Compromisso com a Sustentabilidade, pautada pelas premissas do Pacto Global da ONU, e da International Council on Mining & Metals, que está estruturada nos pilares das relações sociais, do meio ambiente, da segurança e inovação. Mas como falar desse grande desafio sem falar em pessoas? E como falar de pessoas sem considerar nossa cultura? E como atuar na cultura sem abarcar a diversidade, a equidade e a inclusão?
Só pessoas constroem propósitos comuns. A partir dos nossos valores e da visão de longo prazo, buscamos desenvolver todas as partes interessadas. E para que esse objetivo se consolide, temos trabalhado incansavelmente em programas, projetos e políticas específicas que demandam a formação, a requalificação e o engajamento das lideranças e de seus times para criar valor compartilhado. Nasceram daí o Programa de Diversidade, Equidade e Inclusão, o Programa de Saúde Mental, a Política de Direitos Humanos, entre outras iniciativas que buscam reforçar transversalmente a nossa cultura, ampliando conquistas e mostrando que “quando você pode ser quem é, mostra o melhor que pode ser”.
Por isso mesmo, nossas práticas estão voltadas para garantir uma cultura inclusiva, com foco no crescimento sustentável, capaz de aprender e reaprender, ao mesmo tempo em que cuidamos da saúde integral e da segurança das pessoas. E isso precisa repercutir em nossa cadeia de valor, pois queremos influenciar positivamente a inserção das pessoas em todos os espaços onde habitam. Trata-se de uma mudança ecossistêmica, em que as ideias e ações estão interconectadas e se orientam pelo propósito maior da empresa e pelo senso de pertencimento, gerando respostas e soluções inovadoras, criativas e surpreendentes.
Um dado importante: somos 109 milhões de mulheres brasileiras e representamos 51% da população, segundo dados do IBGE. Mas a tomada de decisão na agenda ESG ainda é predominantemente masculina, pois a maior parte dos cargos de gestão é ocupada por homens. Uma boa notícia é que uma pesquisa da consultoria global Grant Thorton mostra que, no Brasil, a proporção de mulheres em cargos de liderança é de 31%, pouco maior do que a média global, que fica em 29%. Se pensarmos que, segundo outra pesquisa, desta vez feita pela Hybrid, em 2021, as lideranças femininas se destacam pela coletividade, pelo humanismo e pelo afeto, talvez seja conveniente pensarmos um pouco: em que medida nossas organizações precisam cultivar mais esses atributos para que a diversidade e o trabalho coletivo ocupem seus espaços na construção do desenvolvimento sustentável?
*Vera Lucia Silva é gerente geral de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Samarco.