“A vida é feita pelas conexões que cultivamos”
A mentalidade de aprendiz, a humildade de errar e corrigir e a confiança inabalável no poder das conexões humanas dão pistas de que Roberta Vasconcellos, CEO da Woba, foge aos estereótipos dos jovens empreendedores. Para ela, não existe decisões acertadas sem equilibrar o racional e o emocional, sem a troca contínua com as pessoas. Eleita Jovem Liderança pelo Prêmio Executivo de Valor e listada na Forbes Under 30, ela conta mais sobre sua história nesta entrevista exclusiva.
A Woba é fruto da evolução de um modelo de negócio inovador, com raízes na tecnologia, mas tem em sua base uma necessidade humana clássica: a conexão entre pessoas. Essa característica de prezar pelos relacionamentos é também uma das marcas da sua carreira. Conte mais sobre a história da Woba e como o seu jeito humanizado de liderar se conecta ao propósito da empresa.
A Woba é uma plataforma tecnológica que conecta pessoas e empresas a diferentes tipos de espaços – desde escritórios privativos até salas de reunião e áreas compartilhadas – em toda a América Latina. Nosso foco é centralizar o real estate das empresas de forma eficiente, aumentando a produtividade, mas, acima de tudo, fomentando conexões entre as pessoas.
Sempre acreditei que a vida é feita das conexões que cultivamos. Não são apenas os resultados que contam, mas as pessoas que encontramos pelo caminho e como essas relações nos ajudam a crescer. Ao longo da trajetória da Woba, essa visão tem sido fundamental, seja na construção de parcerias, no relacionamento com nossos clientes ou no desenvolvimento da nossa equipe.
Nossa cultura reflete isso em três pilares: Be You (seja autêntico), Be Together (seja colaborativo) e Be The Difference (faça a diferença, vá além). Esses valores guiam todas as nossas decisões, desde o produto que entregamos até como lidamos com nossos colaboradores e parceiros.
Além de otimizar espaços de trabalho com tecnologia, acreditamos que as conexões humanas são o que realmente fazem a diferença. Como mostra um estudo de Harvard, são as boas relações e a vida em comunidade que trazem felicidade ao longo do tempo e na minha visão quem faz isso de forma genuína não só é mais bem sucedida, mas mais feliz. Passamos a maior parte do nosso dia com as pessoas com as quais trabalhamos e o olho no olho de acordo com a cultura e política de cada empresa em ambientes adequados é essencial para criar esse engajamento. A Woba se dedica a promover esses momentos de troca no ambiente de trabalho, não só para aumentar a produtividade e os resultados das empresas, mas para tornar as pessoas mais felizes.
Através da nossa tecnologia, estamos transformando o mercado de real estate corporativo, criando soluções flexíveis e eficientes que conectam empresas e pessoas de forma simples e humana. No final do dia, tudo se resume a pessoas.
De estagiária comercial na Samba Tech, ao empreendedorismo com os aplicativos Tysdo e BeerorCoffee, chegando a CEO da Woba – na sua trajetória, quais foram as suas maiores conquistas, descobertas e, no caminho oposto, os erros que mais te ensinaram?
Essa pergunta daria um livro! Estou no mercado de tecnologia desde 2009 e empreendendo desde 2013, então foram muitos aprendizados antes de chegar à Woba. Um dos maiores ensinamentos foi testar rápido, sem se apegar demais à ideia inicial. Se você não tem um pouco de vergonha da primeira versão que lançou, provavelmente demorou muito para colocar no ar.
Outro aprendizado fundamental foi desapegar da ideia original e focar nos resultados. Muitas vezes, começamos com uma visão ou paixão, mas, na prática, o modelo de negócio não funciona. Foi o que aconteceu com a nossa primeira startup. A chave está em se adaptar, pivotar e sempre ouvir o cliente para gerar mais valor e melhores resultados.
Aprendi também o quanto as relações de sociedade são importantes. É essencial estar com pessoas que compartilham dos mesmos valores e que tenham expectativas alinhadas para o futuro. E aprendemos diariamente a importância de construir uma cultura de forma intencional que isso no final, voltando em pessoas, é o mais importante para a sustentabilidade de uma empresa.
Em termos de conquistas, claro, temos marcos importantes, mas acredito que as maiores vitórias estão no dia a dia. Temos um canal no Slack onde compartilhamos depoimentos de clientes e parceiros, e chamamos isso de nosso “potinho de amor”. São esses pequenos momentos que reafirmam nosso propósito e nos motivam. No fim, gosto muito da jornada – são as trocas diárias, o crescimento conjunto com pessoas que admiro e o impacto que estamos gerando na vida das pessoas. Para mim, isso é o que mais importa, mais do que prêmios ou grandes resultados, que são apenas consequências desse foco na jornada e em resolver problemas reais que impactam nossos clientes, parceiros, o mercado e a sociedade.
“Podem tirar tudo de você, mas conhecimento ninguém tira”. A frase, compartilhada em entrevista ao jornal Estado de Minas, é parte de um ensinamento do seu avô – e é simbólica para os nossos tempos. Pensando em jovens executivos, qual a sua orientação para que eles possam saber transformar tanta informação disponível em conhecimento que agregue ao negócio, à carreira?
Vou responder com uma outra frase do meu avô que carrego comigo: “nunca pare de começar e nunca comece a parar.” Acredito que essa mentalidade de aprendiz, de estar sempre em busca de conhecimento, é essencial. Como Sócrates dizia, “só sei que nada sei,” e a verdade é que a maior parte das coisas a gente nem sabe que não sabe. Por isso, o primeiro conselho que eu dou é ter sede por aprendizado, porque o mundo muda muito rápido.
Hoje, temos acesso a uma infinidade de fontes – seja por meio da tecnologia, IA, podcasts, livros, mentores ou pessoas que já estão em um estágio à frente. Essas conexões nos ajudam a errar menos e a tomar melhores decisões. E o conhecimento que você adquire, ninguém pode tirar de você. E esse conhecimento acumulado e a prática, a ação, vai te moldando para tomar melhores decisões.
Com tanta informação disponível, é fundamental aprender a filtrar e a focar. Ter mentores e fontes confiáveis é importante, mas também é necessário um processo interno de autoconhecimento e espiritualidade para estar conectado com seu coração. O coração é o primeiro sinal e o último de vida, por algum motivo, temos que aprender a escutá-lo. Acredito que as melhores decisões vêm de um equilíbrio entre o racional e o emocional, e esse alinhamento na minha visão será uma habilidade super importante para uma trajetória de sucesso.
Você é muito admirada pelo mundo executivo, fez parte da lista Forbes Under 30 e, recentemente, foi reconhecida como Jovem Liderança no Prêmio Executivo de Valor, do jornal Valor Econômico. Falando agora das suas referências, quais profissionais inspiraram a sua carreira, sejam pessoas conhecidas ou do seu círculo pessoal. Quem são elas e por que?
Mais uma vez, cito meus avós como grandes referências para mim. Pelo lado paterno, tive o privilégio de conviver com Anselmo Vasconcellos, e, do lado materno, embora não tenha conhecido pessoalmente, admiro profundamente a história de Waldemar Velloso, dois grandes empresários que batalharam e construíram negócios importantes no Brasil. O que mais admiro em ambos é a resiliência e os valores humanos que carregaram ao longo de suas trajetórias.
Meu pai é uma grande inspiração, principalmente por sua força e pela coerência em todas as suas atitudes. Minha mãe também é uma referência essencial, como mãe, mulher de fé e líder.
Além disso, meu marido, Manuel Centeno, é alguém que admiro muito. Ele tem uma força de vontade incrível e se dedica de corpo e alma aos seus objetivos, sempre indo além do que imagina. Meu irmão e sócio, Pedro, também me inspira com seu otimismo e sua capacidade de sempre enxergar o lado bom de tudo.
No mundo dos negócios, tenho mentores e referências que me inspiram. Diego Barreto, CEO do iFood, é uma dessas figuras, assim como Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, que admiro mesmo sem ter uma relação direta. Ao longo da minha vida, tive a sorte de conviver com vários empreendedores e empreendedoras incríveis, especialmente agora dentro da rede da Endeavor, que tem sido uma troca de experiências muito enriquecedora.
Assumir grandes responsabilidades e ter uma vida corrida faz parte da rotina executiva. Mas atualmente as lideranças não abrem mão de tempo de qualidade para si e com a família. Na sua rotina à frente da Woba, como você concilia o tempo na empresa, para se desenvolver, na sua vida pessoal, com a maternidade? Compartilhe com os nossos leitores o que, para você, é indispensável em termos de autocuidado.
Eu me considero uma grande aprendiz na relação entre maternidade e trabalho, especialmente porque meu filho tem apenas um ano. Tem sido uma jornada desafiadora, mas cheia de aprendizado. Eu busco constantemente trocar experiências com outras pessoas que já passaram ou estão passando por essa fase, para entender como posso me adaptar e me organizar melhor.
O que tenho tentado fazer é dividir meu dia de forma que eu consiga encaixar momentos essenciais e “inegociáveis”: começar a manhã com exercício físico, passar um tempo com meu filho, depois dedicar meu horário ao trabalho e, no final do dia, voltar a estar com ele. Se necessário, faço um “terceiro turno” à noite para finalizar questões pendentes. A flexibilidade de alguns dias não precisar estar no escritório me ajuda muito, e a rede de apoio – com a participação dos avós e da madrinha – é essencial nesse processo.
No final das contas, uma coisa complementa a outra. A maternidade nos ensina tanto, e eu realmente acredito que isso nos torna mais fortes e aprimora nossas habilidades, fazendo de nós líderes melhores. Sou muito grata à maternidade e sigo aprendendo a cada dia.