*Luiz Carlos Cabrera
O conceito de empregabilidade eu comecei a desenvolver no início da década de 80, no momento em que o chamado “vínculo tradicional” dava os primeiros sinais de ruptura, deixando claro que a troca simbólica de “lealdade” por “segurança” não existia mais entre as empresas e seus funcionários.
O “vínculo tradicional” durou, no mundo, cerca de 80 anos caracterizando o contrato proposto pela Revolução Industrial para atrair a massa necessária de trabalhadores. O enunciado real era: “sejam obedientes e seus empregos estarão garantidos”. No pós-guerra (metade da década de 40), inteligentemente o discurso mudou para “sejam leais e seus empregos estarão garantidos”.
No fim da década de 70 e início da década de 80, a crise econômica começou a exigir, das empresas, nos Estados Unidos, uma dramática redução de seus quadros. Na verdade, tudo começara com a crise do petróleo do início da década de 70 e suas consequências na indústria automobilística americana. Quando começaram os processos conhecidos com “downsizing” o tal vínculo tradicional foi para o espaço, pois os obedientes, ou melhor, os leais também foram demitidos. Aliás, vale a pena explicar que a palavra “downsizing” nasceu de uma associação de ideias entre o que acontecia com o tamanho dos automóveis e com o tamanho das organizações. Por causa da necessidade de economia de combustível e da concorrência dos japoneses, os carrões americanos tiveram que diminuir de tamanho, ou seja, tiveram que sofrer um “downsizing”, daí quando as indústrias começaram a cortar os funcionários, usou-se a mesma palavra como gíria. Fazer um “downsizing” significava diminuir o tamanho da organização.
E a empregabilidade, você deve estar perguntando. O conceito de empregabilidade nasce neste momento de ruptura do “vínculo tradicional” e ficou assim expresso: empregabilidade é a capacidade que um indivíduo desenvolve de acumular e manter atualizadas suas competências, o seu conhecimento e a sua rede de relacionamentos, de forma a ter sempre em suas mãos o arbítrio sobre seu projeto de carreira.
Veja, caro leitor, quanta coisa importante neste conceito. Em primeiro lugar a empregabilidade é sua, e é uma capacidade dinâmica, isto é, a empregabilidade evolui quando bem cuidada.
Como você pode perceber a empregabilidade está baseada num tripé formado por competências, conhecimento e pela rede de relacionamentos. Você precisa cuidar das três partes com igual carinho e intensidade.
As competências você começa a desenvolver desde que começa a vida social. Lembre-se que competência é aquilo em que você é bom e os outros acreditam. Para desenvolvê-la é preciso praticar. Por exemplo, ter competência para lidar com pessoas, saber ouvir, ter empatia, ter competência para lidar com informações, saber ler e sintetizar, saber comunicar suas ideias. Estes são exemplos de competências que são adquiridas ao longo da vida e que precisam ser mantidas em constante evolução.
O conhecimento é hoje um grande desafio, pois está disponível de várias formas e através de vários meios. O importante é você saber com clareza qual é o conhecimento que você está precisando adquirir ou atualizar. Se você não tiver bem claro o que você precisa saber, será envolvido por um entulho de conhecimento desnecessário que ocupará seu tempo e espaço no seu computador cerebral.
Outra coisa importante é você ter bem claro como é que você aprende melhor! É lendo? É ouvindo? É através de observação? É fazendo? Procure perceber com clareza como é a sua maneira de aprender. Isto facilitará muito você a não desperdiçar o seu precioso tempo.
Completando o tripé, vem a rede de relacionamentos que é o conjunto de pessoas que você conhece e se relaciona desde os amigos de infância, de colégio, de faculdade, do bairro, do esporte, e do trabalho. São as pessoas com as quais você desenvolve uma história de vida. É um dos componentes mais importantes da empregabilidade, e em geral a mais descuidada.
É a rede de relacionamentos que transmite para toda a sociedade sua imagem profissional e pessoal. É a rede de relacionamentos que divulga suas competências percebidas e sustenta sua empregabilidade, sendo estatisticamente responsável por cerca de 70% das oportunidades de trabalho. É verdade. Cerca de 70% das pessoas que encontram uma nova posição no mercado de trabalho o fazem através de indicações da rede de relacionamentos. É claro que cuidar da rede é difícil, exige tempo, dedicação, paciência. O que preocupa é que as pessoas ao invés de tomar este cuidado sempre, só se lembram de resgatar a rede de relacionamentos quando existe uma crise, ou uma necessidade específica. Aí complica. É constrangedor procurar alguém que você não vê (nem fala) há vinte anos e restabelecer o elo perdido.
Lendo de novo o conceito de empregabilidade você vai perceber que o objetivo final é que você tenha o arbítrio sobre o seu projeto de carreira. Então, é fundamental que você tenha um projeto de carreira. Um projeto verdadeiro, escrito, pensado, detalhado e muito bem feito, afinal estamos falando é da sua carreira. Este projeto deve ser sempre feito por escrito. Os itens são simples. Em primeiro lugar você coloca os seus sonhos para dez ou quinze anos. Quem não tem sonhos não tem projetos. Os sonhos expressam o que chamamos de felicidade. E são os sonhos que movem os projetos.
Em seguida você tem que fazer uma boa autoanálise. Como estão suas competências, seu conhecimento e sua rede de relacionamentos e o que você vai fazer naquele ano para melhorá-los. A terceira parte é o “onde”. É a escolha do cargo, posição, ou área, onde você quer trabalhar na sua empresa ou fora dela (se este for o caso).
A quarta parte é bem operacional. É o “como”. Se for dentro da sua empresa, isto significa um mapeamento das alianças que você terá de fazer para chegar no “onde”. Com quem você precisa falar, quem você precisa conhecer, quem precisa falar de você. É uma articulação perfeitamente ética que deve respeitar os valores da empresa e os seus próprios. Uma articulação bem-feita, bem conduzida e movida pelo seu genuíno interesse pessoal. Se o que você almeja está fora da sua empresa atual, ou se você estiver disponível, enfrentando um período de transição, o procedimento para escrever o “como” é o mesmo. O mapeamento das pessoas com as quais você precisa falar é que pode ser mais complexo.
Como você pode perceber, cuidar da empregabilidade exige tempo e dedicação, mas é a única maneira de você poder ter o arbítrio sobre onde vai aplicar o seu projeto de carreira. Quem tem baixa empregabilidade não decide sobre sua carreira. Anda a reboque, levado pelas circunstâncias, pela sorte ou pelo azar. Você não pode fazer isso com a sua carreira. Pense em tudo o que você já estudou, trabalhou e se esforçou, complementado pelas relações com todas as pessoas que você conheceu e interagiu, isso forma um patrimônio muito valioso para ser tratado sem cuidado.
Cuide de sua empregabilidade, afinal de contas poder ter arbítrio sobre o seu projeto de carreira, que é uma parte integrante do seu projeto de vida, é realmente uma expressão concreta de cidadania e um excelente caminho para ser feliz.
*Luiz Carlos Cabrera é sócio fundador da Panelli Motta Cabrera. É professor da EAESP – Fundação Getúlio Vargas, do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e da EMI – Escola de Marketing Industrial.