Considerado um dos maiores males da atualidade, não é de hoje que o estresse bateu à porta do ambiente corporativo afetando trabalhadores em escala mundial. No Brasil, 62% dos representantes de empresas consideram o estresse o maior risco para a saúde do efetivo, segundo pesquisa global da consultoria de recursos humanos Willis Towers Watson. Os números são ainda mais alarmantes quando vemos as estatísticas de outras regiões: EUA (75%); Europa, Oriente Médio e África (74%) e América Latina (72%). Apenas na Ásia e Pacífico a preocupação com o estresse é menor, citada por 44% das empresas.
Os dados apontados fazem parte de dois estudos, o “Staying@Work – Health & Productivity”, aplicado em 1.700 empresas de médio e grande porte em 34 países; e o “Global Benefits Attitudes” que envolveu 30 mil funcionários de 19 mercados mundiais.
Para Eliane Ramos Vasconcellos Paes, presidente da ABRH-MG, consultora e também diretora regional PI Brasil/Arquitetura Humana, uma das grandes razões para o problema é que as pessoas não estão sendo cuidadas como deveriam. “Na verdade, como líderes, acho que não cuidamos nem de nós mesmos como deveríamos. Mas precisamos ter em mente que as pessoas são a engrenagem da empresa e sem elas não há resultado. Por isso, elas precisam de respeito profissional e cuidado pessoal para serem felizes e assim produzirem ganhos para a organização. Portanto, as empresas precisam investir em uma boa gestão de pessoas, entender de gente, focar no conceito da inteligência social, conhecer a si mesmas, conhecer o outro e valorizar as diferenças”, sublinha.
Seguido do estresse, outros problemas ligados à saúde foram citados pelas empresas como grandes desafios a serem superados. São eles a falta de atividade física (44%), o presenteísmo (42%), o excesso de peso/obesidade (40%) e os maus hábitos alimentares (36%). Apesar de todos os fatores apresentarem sérios riscos para o desenvolvimento de um bom trabalho, os dados apurados pela Willis Towers Watson revelam que somente um quarto dos funcionários recorrem aos seus líderes para conversar sobre o problema e apenas dois em cada dez funcionários dizem ter um plano de como lidar com esses transtornos por conta própria.
A consultora Eliane Ramos acredita que para mudar esse cenário é necessário que os líderes sejam mais transparentes, comunicativos e proporcionem mais feedbacks aos seus subordinados. Mas, adverte: “caso isso não aconteça, os próprios funcionários precisam criar essa oportunidade. Não adianta reclamar que seu líder não esteja presente. A responsabilidade é sua, cuide da sua carreira como um negócio que tenha resultado”.
De onde vem o estresse?
Ao se confrontar o que empregados e empregadores consideravam como principais fontes de estresse relacionadas ao ambiente de trabalho, foi descoberta uma desconexão entre as visões de cada um. Para empregadores, a principal razão é a falta de equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, enquanto para os empregados, o motivo são os salários baixos. Entre os cinco fatores mais citados por ambos estão também preocupações relacionadas à situação financeira pessoal e, no caso dos funcionários, o medo de perder o emprego, potencializado, sobretudo pela crise econômica.
Um outro complicador do estresse na visão da presidente da ABRH-MG é a gestão do tempo. Com a vida cada vez mais corrida, ela afirma que para ser mais produtivo é necessário fazer aquilo que é considerado prioritário com a menor quantidade de recursos possíveis. “O escritor Christian Barbosa fez uma releitura do autor Stephen Covey e criou a Tríade do Tempo. Essa matriz destaca o que é importante (tarefas feitas com prazer, tempo e que geram resultado), urgente (tarefas feitas na correria gerando um grande estresse que podem afetar o trabalho e a vida pessoal) e circunstancial (tarefas desnecessárias que não trazem resultado e sim frustração). Precisamos saber lidar e administrar essas três esferas, lembrado sempre de dedicar mais tempo à esfera da importância para não chegar ao urgente. Isso reflete em todas as atividades que desempenhamos, profissionalmente e pessoalmente, a curto, médio e longo prazo”, explica.
Embora poucas empresas tenham feito programas de saúde e bem-estar voltados para o estresse no ano passado, o tema está nas agendas das companhias. Quase metade (45%) têm programas de gerenciamento de estresse planejados para 2016 e 11% consideram criar medidas em 2017 ou 2018.
De acordo com Eliane Ramos, as empresas estão começando a se preocupar com isso porque já perceberam que as pessoas estão mais retraídas, reprimidas e até depressivas. Nunca se viu tantos profissionais trabalhando doentes e tomando remédio para dormir, acordar e antidepressivos. “Empresas que têm um RH mais estratégico e atuante já se alertaram para o problema há muito mais tempo, pois sabem que as pessoas só são felizes se estiverem no lugar certo, na empresa certa e no momento certo”.
Cuide bem das suas relações
Mas, afinal, como superar o estresse com uma agenda tão atribulada? Para a consultora Eliane Ramos, isso exige uma atenção especial, sobretudo no caso de executivos que têm um perfil “estressado por natureza”, aqueles que são mais impacientes, ansiosos ou que trabalham sempre sob muita pressão. “Costumo dizer que é esse estresse que os motiva, mas, por outro lado, precisamos entender que o estresse é cumulativo. A melhor maneira de lidar com tudo isso é investindo e cuidando das conexões sociais, ou seja, dos nossos relacionamentos. Pesquisas revelam que as pessoas mais felizes, saudáveis e que vivem melhor são exatamente aquelas que possuem um bom relacionamento com a família, amigos e colegas de trabalho. Temos que aprender a beber dessa fonte, estabelecer relações de qualidade, pois essa dificuldade no relacionamento é também um grande impulsionador de estresse”, salienta.
Restabelecer os laços afetivos, ter gratidão, admiração, carinho com as pessoas, se interessar mais pelos outros e ser otimista são outras dicas sugeridas pela dirigente. Ela ressalta ainda a importância dos cuidados com a saúde como a prática de atividades físicas, alimentação saudável e qualidade do sono. Ter válvulas de escape, como um hobby, também faz toda diferença, de acordo com Eliane.
Para que essas atitudes possam ser incorporadas em 2017, ela sugere a seguinte reflexão: “Einstein costumava dizer que o tempo corre a uma velocidade de sessenta minutos por hora. Você precisa colocar seu carro na estrada, seguir seus maiores sonhos e objetivos. Faça seu planejamento. Se não fizer isso, você vai rodar em círculos na estrada que é a vida e, quando assustar, 2017 já terá passado e você não pegou a pista que desejava. Então, fechará mais um ano dizendo que o tempo voa e assim não terá feito as coisas que realmente são importantes para você. Seja feliz. Só depende de você, ou seja, na fórmula baixo, 90% é você”.