“A vida é um convite irrecusável à mudança”
Estilo como forma de mostrar personalidade, ponto de vista, força, quem você é. Cris Alves trouxe novo significado à consultoria de imagem ao desenvolver uma metodologia que vai além da vestimenta e une ciência a autoconhecimento. Seu trabalho, que envolve estudos nas áreas da Gestalt e psicologia facial (para citar alguns exemplos), é considerado um dos mais inovadores do mundo – a propósito, ela dará início à sua agenda internacional de cursos a partir de 2020, começando pela Carolina do Norte, nos EUA, e depois segue para a Ásia. Foi com a simpatia e generosidade habituais que ela nos concedeu esta entrevista exclusiva. Acompanhe e, claro, inspire-se!
Comunicar uma imagem que reflita suas ideias e filosofia de vida. Estimular que os outros o vejam de acordo com a mensagem que você quer passar. A consultoria de imagem é um processo que começa “de dentro pra fora”, certo? Ela passa, necessariamente pelo autoconhecimento? Como funciona o método?
Exatamente! A consultoria de imagem é, antes de tudo, um caminho para o autoconhecimento. Só é possível comunicar visualmente aquilo que realmente somos, pensamos, fazemos e desejamos. Ela acontece quando a pessoa se dá conta de que a sua aparência não revela suas qualidades genuínas e que há um “gap” que pode ser preenchido com recursos estéticos e semióticos para o rosto e o corpo. Muitas vezes, nos damos conta de que há um ruído na nossa imagem pessoal. Chamo de ruído aquele atributo que funciona como uma espécie de lente para que todas as outras pessoas nos vejam como se aquele fosse o atributo mais marcante da nossa identidade. Porém, no fundo, ele é apenas uma pequena parte de todas as facetas que apresentamos.
O “ruído” é algo que nos pertence, mas incomoda o fato de que essa característica seja tão percebida a ponto a deixar as outras – mais importantes, inclusive –, de fora do espectro das impressões alheias. Vou citar alguns exemplos: uma jovem recém-formada com pouco mais de 20 anos pode ter o ruído de “menina” em sua imagem pessoal e acabar por ser questionada quanto à sua credibilidade ou competência. A questão é que, de fato, ela tem pouca idade comparada a outras pessoas na sua área de trabalho. No entanto, seu conteúdo técnico, a sua dedicação e a sua capacidade de aprender com os desafios podem contornar eventuais objeções de colegas e superiores se essa jovem souber quais são os traços físicos e comportamentais que reforçam a sua relativa pouca idade e, provavelmente, aquilo que pode caracterizá-la como alguém frágil ou despreparada para a função.
A mesma questão entre ruído visual x essência x desejos de imagem acontece a um líder que aparenta ser muito bravo, frio e distante quando, no seu cotidiano profissional, ele precisa demonstrar mais acessibilidade, acolhimento e habilidade de comunicação. Nesse segundo caso, muito provavelmente, o ruído está sendo percebido, também, por atributos físicos, expressões faciais, tom de voz, postura e escolhas estéticas para o visual que reforçam essas impressões por parte das pessoas ao redor. E é aqui que o método Persoona® age. Por meio da associação de áreas do conhecimento como a neurociência, a Gestalt, a anatomia, a psicologia facial e a semiótica, ajudamos o cliente a reconhecer suas forças e as causas para aquilo que ele considera como “gap” na sua imagem ou maneiras de contornar feedbacks indesejáveis, com vistas ao melhor desempenho de suas habilidades profissionais e interpessoais. É um catalisador para o bem-estar em todos os planos da vida. É o primeiro método de consultoria de imagem guiado pelo rosto em todo o mundo. Traz uma quebra de paradigma para esse segmento do mercado, tradicionalmente acostumado a gerenciar a imagem das pessoas por meio da vestimenta, apenas.
A consultoria de imagem pode ir além da questão estética e se transformar em um processo que trabalha a autoestima, a autoconfiança e até mesmo incentivar o desenvolvimento pessoal e profissional do participante? Por quê?
Eu trabalho muito para que a consultoria de imagem não seja vista pelo viés do “glamour” ou da futilidade quando ela é confundida com a moda em si. Aliás, posso dizer que a minoria dos meus clientes se preocupa com tendências. Até mesmo por uma questão de posicionamento profissional, acredito que tenho a sorte de trabalhar com pessoas que têm propósitos claros e objetivos com relação ao próprio visual, fazendo de sua aparência uma ferramenta de bem-estar e catalisador de resultados na vida corporativa. Fazer escolhas para a imagem pessoal – desde um corte de cabelo à cor do calçado – envolve memórias, sentimentos, repertório. Durante o processo de consultoria de imagem, o cliente é levado a revisitar muitos “porquês” de toda uma vida, lançar mão de algumas crenças e se dispor a novos aprendizados. Se a pessoa não sente confiança na imagem em que enxerga no espelho, a dúvida pode acabar sendo levada para outras esferas de sua vida. Por outro lado, o autocuidado promove um balanço saudável de hormônios que podem, sim, dar um novo impulso para encarar os desafios.
Em relação ao meio corporativo, é possível realizar esse tipo de consultoria para marcas? Se sim, quais são os benefícios gerados ao negócio?
O objetivo da consultoria de imagem é criar identidade visual para pessoas e empresas. Quando falamos em identidade visual, entendemos princípios como harmonia, coerência e autenticidade. Para isso, é preciso pensar em como uma marca deseja que clientes, parceiros e fornecedores interajam com todos os códigos. A empresa é quem define quais são seus valores e seu propósito. A partir daí, a consultoria de imagem atua para assegurar que essas mensagens serão neuralmente interpretadas por todos aqueles que interajam com seus pontos de contato: símbolos, líderes, colaboradores e estratégias de branding, por exemplo.
Ainda sobre o meio empresarial, uma reportagem recém-publicada pelo Valor Econômico mostra uma mudança significativa no dress code de lideranças. Segundo a matéria, o objetivo é usar roupas informais para quebrar a barreira entre a alta liderança e funcionários. Líderes de empresas como Linkedin, MetLife, B3, IBM, EY, Bradesco e Itaú, por exemplo, já aderiram. Esse comportamento mostra a importância da imagem para impulsionar relacionamentos, comunicação e, sobretudo, para se adequar ao meio. Mas como se adequar sem deixar de lado o próprio perfil/personalidade?
Sempre é possível conferir um toque da personalidade de cada um ao dress code corporativo, seja ele formal ou mais flexível. Assim como em outras áreas que trabalham com imagens no geral (arquitetura, fotografia, artes plásticas, design), o método Persoona® considera os cinco principais elementos de criação imagética: linhas, formas, cores, textura e volume. Para toda escolha feita para o visual de uma pessoa, esses cinco atributos caminham juntos. Assim, vamos criando um balanço interessante entre cada um desses elementos para que a pessoa se reconheça em sua zona de conforto, mesmo quando o dress code impõe características que fogem ao seu natural. Por exemplo: se um líder tem personalidade forte, arrojada e formal, ainda que a empresa flexibilize o seu dress code, ele pode se sentir “ridículo” ou até mesmo enfraquecido ao usar modelagens mais soltas e tecidos maleáveis num ambiente em que ele se sente à vontade demonstrando o seu lado determinado e preciso. Nesse caso, poderíamos selecionar peças com modelagem de alfaiataria (linhas retas) em tecidos naturais (textura), porém, um pouco mais estruturados (forma), como a sarja e o algodão puro. Para casar com a ideia de abertura e leveza, tons mais claros (cores) seriam bem-vindos, desde que frios, pois vibram menos do que as nuances quentes e são, portanto, mais discretas.
O método Persoona® analisa os traços faciais para adequar imagem a objetivos de carreira e vida pessoal. Como funciona a análise facial e qual a sua importância no diálogo com imagem/estilo/autoconhecimento?
A análise facial do método Persoona® é chamada Facetelling® e, como o próprio nome diz, ela traduz a história que o rosto de cada pessoa conta. Para isso, eu uso a associação entre neurolinguagem, gestalt, anatomia e psicologia facial (também chamada de morfopsicologia). Os traços e as proporções faciais possuem formas diferentes de uma pessoa para outra e isso também revela as tendências de comportamento e personalidade de cada um. Por exemplo: a testa reta indica perfil de liderança nato; já um queixo projetado, diz que a pessoa sabe impor as suas vontades e perseguir as suas ideias, entre outras características. Para cada atributo do rosto há um espectro de qualidades que contam como a pessoa pensa, age e expressa seus sentimentos diante da vida. São ciências muito antigas que não têm o propósito de afirmar que há um determinismo biológico (algo do tipo “nasci assim e por isso ajo assim”) até mesmo porque existe algo no meio de tudo isso que é a influência do meio em que vivemos. Por outro lado, dentro desse conjunto de características trazidas em cada traço facial (forças e também fraquezas), reconhecemos quais são aquelas que nos pertencem, como somos impulsionados por elas e como elas podem ser as causas dos ruídos de imagem que nos incomodam.
Percebo, na minha prática diária, que o traço que antes incomodava o cliente sob o ponto de vista da estética perde essa conotação de “feio” quando ele descobre que esse mesmo traço representa aspectos positivos para o seu comportamento diante da vida. Por exemplo: o nariz projetado pode sinalizar que a pessoa é impulsiva, arrojada, ambiciosa e “mergulha na vida”. Se, por um lado, ela pode se arrepender de atitudes mal planejadas, é o tipo de pessoa que se lança a riscos e sempre tem chances maiores de obter vantagens por meio dessa ousadia do que outras que não apresentam a mesma iniciativa. (Os clientes usam muito um adjetivo para isso: “libertador!”) Por meio do reconhecimento das linhas faciais, eu também tenho a oportunidade de identificar quais são os elementos de design (linhas, formas, cores, textura, volume) que representam a zona de conforto do cliente e que possibilitarão propostas de mudanças mais seguras para ele. Além disso, a Facetelling® permite captar os arquétipos imagéticos presentes no cliente e o quão perto ele se encontra dos seus desejos de imagem. É uma poderosa ferramenta de assessment para reconhecer os pontos fortes das pessoas.
Vamos falar agora de sua trajetória pessoal. Pouco tempo depois de se formar em fisioterapia, você optou pela transição de carreira e é considerada hoje uma influente consultora de imagem. Como foi seu processo de transição, o que te motivou a mudar de área e quais foram os principais ensinamentos dessa jornada?
Eu me graduei em Fisioterapia pela Universidade Federal de Minas Gerais em uma época muito difícil para esse segmento de mercado. Logo depois, eu decidi prestar concurso público e fui aprovada para o cargo de consultora em saúde pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Já com a vida estável, eu procurei uma segunda atividade para desempenhar como um hobby, inicialmente. Mal sabia eu que na consultoria de imagem eu descobriria não só uma paixão, como também um grande propósito. Logo com os primeiros clientes, eu me questionava muito o que sugerir para as mudanças relativas ao rosto, tendo em vista que os cursos de formação na área não forneciam conhecimento sobre esse assunto.
Ficávamos limitados às mudanças de vestimenta, apenas. Eu me lancei a estudar o que havia disponível no mercado na época, o visagismo. E, a partir de então, descobri que o meu “feeling” estava certo. O rosto não poderia ser somente a “cereja do bolo” num processo de consultoria de imagem. Mergulhei em estudos acadêmicos, pesquisas científicas e livros que pudessem corroborar a importância do rosto no julgamento das impressões iniciais que fazemos sobre as pessoas. E as descobertas foram – e ainda o são até hoje – incríveis! Eu descobri na minha própria área de origem, a Fisioterapia, respostas e ferramentas muito profundas para dar sustentação e evidência científica para a minha prática profissional. De um lado, havia o visagismo, que se ocupa do equilíbrio das proporções faciais. De outro, a consultoria de imagem “tradicional”, que se preocupa com o indivíduo do “pescoço para baixo”. Faltava um método de trabalho que pudesse considerar o indivíduo em toda a sua totalidade, as interações entre o equilíbrio da cabeça e do corpo, bem como o rosto e o estilo poderiam transmitir, juntos e simultaneamente, as mesmas mensagens. Assim, surgiram Facetelling® e Persoona®. Meu propósito desde então é virar a chave dos profissionais da área da imagem para fazer com que seja dada a devida importância ao que é mais importante – o rosto –, pois, apesar de ocupar somente 1/8 do corpo, ele é o nosso ponto de contato visual e afetivo com tudo e todos ao redor. É a parte do corpo que fica despida o tempo todo e por onde está representada toda a diversidade humana que carregamos em nosso DNA. À medida em que eu me envolvi nesse sonho de dar uma nova configuração à consultoria de imagem, o sonho de uma carreira estável foi ficando para trás. Agora em 2019, eu pedi a exoneração do meu cargo público. Uma decisão difícil de início, exatamente porque eu estava abandonando a posição pela qual eu havia batalhado muito durante uma fase da minha vida. Por outro lado, a motivação pelo desafio de ser empresária e empreendedora foram maiores. Foi uma decisão gradual e bem planejada. O frio na barriga é grande; os aprendizados em “voo solo”, maiores ainda. Mas, estou aqui, de coração aberto para o que está por vir.
Qual ou quais profissionais mais te inspiram atualmente e conte-nos o motivo.
As pessoas corajosas me inspiram muito. (Essa, para mim, é a qualidade mais admirada numa pessoa. E, também, o maior elogio que posso receber de alguém.) Muito sinceramente, minha primeira referência é a minha mãe. Ela se encaixa perfeitamente no conceito de corajosa. Empreendedora, “pé no chão”, otimista. Ela partiu do zero e deu uma grande guinada na vida, em meio a dificuldades e grandes desafios. Como outra referência feminina, tenho a Michelle Obama. Considero-a muito consciente, autêntica, motivadora. Posso citar também o Elon Musk: inovador, arrojado, altruísta. Aquela “loucura” toda me encanta. Aqui em BH, gosto de acompanhar os movimentos do Elias Torres, empresário por detrás das barbearias Seu Elias. Eu adoro histórias de superação, de gente que suou cada gota do esforço feito para alcançar suas conquistas.
Em relação às suas referências culturais, tem algum livro, filme, artista plástico/visual ou música que te marcou e ensinou algo? Se sim, divida com os nossos leitores qual ou quais são.
Gosto muito das lições implícitas no filme “Clube da Luta”.
Para quem busca uma mudança na carreira, na postura, na forma de se comunicar, qual a sua principal dica?
A vida é um convite irrecusável à mudança. Aceite esse chamado para a “dança” e tente algo novo sempre que o status lhe deixar incomodado. Sair da zona de conforto pode ser “desconfortante”, mas, é, também, altamente revigorante.
Tem algum pensamento, ensinamento, frase ou trecho de livro que você admira e que sempre surge na memória? Se sim, divida com os nossos leitores.
Nos últimos tempos, tenho refletido muito sobre uma frase de Hanry David Thoreau: “O preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você troca por ela.”