Sensemaking: Invenção. Diversidade. E feiura.
*Por Denise Eler
Então você precisa resolver um problema de forma estruturada para obter melhores resultados, certo? Hoje vamos explorar a segunda etapa do processo, em que nos dedicamos à criação de sentido. Para você que chegou agora, leia antes os dois primeiros artigos desta série – artigo 1 e artigo 2.
Na primeira etapa – SENSEBREAKING – criamos as condições para que o NOVO fosse uma necessidade do grupo e não apenas de quem propôs a necessidade de mudança. Leonard Cohen disse que: “Há uma fresta em tudo, e é por ali que a luz entra.” Muitas vezes, o problema existe, mas não é percebido por todos, nem da mesma maneira. A entrega principal da primeira etapa é o reconhecimento coletivo (a fresta) de que o problema realmente existe e o nível de sua complexidade.
Alguns têm traduzido sensemaking como interpretação, mas concordo com Karl Weick, uma referência neste assunto: “Sensemaking tem menos a ver com descoberta e mais a ver com invenção.” O que isto significa? O processo de criar sentido pressupõe, muitas vezes, que o sentido precisa ser proposto, não apenas desvendado. Se na fase de “problem finding” precisamos ler entrelinhas e achar conexões entre os elementos após descontruirmos as narrativas (sensebreaking), na fase de “solving” precisamos criar respostas novas para o desafio. Precisamos INVENTAR respostas que conectem a realidade atual à realidade desejada.
É importante lembrar que desafios complexos não têm respostas únicas. A melhor resposta dependerá sempre do contexto, será sempre temporária. Por isso, trabalhamos com um grande volume possível de respostas. Nesta fase, volume é importante. Quando pedimos 20 respostas possíveis ao invés de três, a mente tem de trabalhar. Outra forma de aumentar o volume e diversidade de respostas é formando um grupo heterogêneo de pessoas, com competências e experiências que enriqueçam a sessão com perspectivas diferentes das esperadas. Aumentar a diversidade do time também minimiza a falácia da centralidade, segundo a qual, tendemos a duvidar daquilo que não conhecemos. Que ironia, não? Queremos o novo, mas só confiamos no que é familiar. Sair da bolha exige consciência de que ela existe e providências para a fuga.
Após a ideação, o grupo precisa levantar critérios para selecionar as melhores apostas. As apostas que farão sentido serão aquelas que preenchem requisitos levantados pelo grupo. Exemplo: Esta proposta entregará o valor esperado? Ela é viável? Temos todos os recursos para devolvê-la? Esta resposta pode gerar que tipo de problemas colaterais?
Uma análise sistêmica de cada proposta é fundamental para uma seleção criteriosa daquelas que seguirão no páreo. Vale convidar pessoas que não participaram da ideação para questionar as propostas. Pessoas que não tem nada a ganhar, nem a perder com a entrega do grupo. Dependendo do tempo e grau de incerteza, uma ideia pode seguir para prototipação, se transformar em um experimento, ser abandonada ou transformada em outra ideia. Mas é importante entender que nenhuma ideia nasce bonita.
Gosto muito quando Ed Catmull, presidente da Pixar, diz: “O custo disso fica claro quando você pensa em como um filme começa. É um bebê. É como o feto de uma estrela de cinema; todos nós começamos feios. Cada uma das histórias da Pixar começa assim. Uma coisa nova é difícil de definir; não é atraente e requer proteção.”
O mais importante é entender que a cada etapa estamos reduzindo as chances de entregar coisas que não farão sentido para a organização, para o mercado e para nós mesmos. As ideias testadas, e sobreviventes, entrarão para a fase de desenvolvimento.
No próximo e último artigo desta série, vamos lidar com o desafio final. Agora que temos respostas que fazem sentido para nós, como garantir que farão sentido para os outros que não participaram do processo de construção de sentido?
Te espero.
*Denise Eler é consultora, palestrante e professora. Uma das principais referências do país em Sensemaking e Design Thinking.