O que ganhamos quando temos líderes eficientes para comunicar? A lógica de ser ouvido.
*Por Luciana Vianello
Uma habilidade extremamente potente e percebida em grandes líderes é a força do alicerce da competência comunicativa.
Mas porque uma soft skills se tornou uma vedete no mundo corporativo? É desejada tanto por executivos e alta gestão, quanto times e equipes de alta performance. E a resposta é obvia. Porque as fragilidades de comunicação nas organizações atingem a todos e os impactos diretos envolvem erros, tempo e custos. Além do mais, há impactos indiretos tão grandes quanto os primeiros, resvalando nas relações, no eixo da confiança e na cultura da organização.
Muitas pessoas consideram que para ser eficiente na comunicação basta falar bem, e se dão por resolvidas! Mero engano, aliás, esse já é um pressuposto equivocado e concorrente a falhas, já que esta é apenas uma das facetas da competência comunicativa.
Mais que “falar bonito”, a ênfase deveria ser dada a sua capacidade de ser ouvido. Isso mudaria completamente a perspectiva das conexões. Líderes precisam ser ouvidos, times também precisam ser ouvidos e validar essa dimensão para os diferentes contextos vivenciados nas organizações seria uma nova tomada de consciência do processo comunicativo num modelo de fluxo de abertura mais horizontal.
Já imaginou ser ouvido durante negociações duras? Na construção de acordos difíceis nos quais há muitos interesses envolvidos? E até mesmo, diante da validação das tomadas de decisões? Seria possível minimizar as rotas desgastantes no eixo das relações profissionais? A resposta é sim, se as barreiras ou as defesas pudessem ser percebidas antecipadamente, entendidas e muitas das necessidades ocultas viessem a tona com uma comunicação clara, havendo mais possibilidades de serem atendidas. E desta forma, essa trilha se encontraria em um fluxo bem mais dinâmico!
Ser ouvido é ser compreendido de forma plena, sem uso de forças impositivas e restritivas que muitas vezes validam apenas as lideranças apoiadas no circuito do medo-punição e controle!
A competência comunicativa traduz-se pela eficiência em que se dá a compreensão! E vamos e convenhamos, aquele velho esquema mostrado nas faculdades de comunicação sobre o processo comunicativo, onde relaciona-se – emissor x receptor x mensagem x contexto x canal – é simplificar um processo bem mais complexo.
Quando nos deparamos com a trilha de uma informação, vale ressaltar que esta se opera em bases neurais onde são decodificadas nuances de entendimento por meio de uma gama de estruturas especializadas em áreas distintas no cérebro, e o resultado final, que é a compreensão, acontece pelo multiprocessamento tanto em níveis linguísticos, cognitivos quanto emocionais.
Aliás, um artigo lançado recentemente na revista científica “Plos One” discute o valor da potência do aprendizado das habilidades interpessoais e infere sobre a importância de se ajustar comportamentos aos objetivos desejados e a complexidade envolvida nesse processo. Esse ajuste deve ser permeado pela competência comunicativa e construção de relacionamentos mediados por processos perceptuais e cognitivos complexos, trocas dinâmicas de interação verbal e não verbal, e conexão envolvendo diversos papeis a serem ativados, bem como as dinâmicas das motivações e expectativas envolvidas.
Ou seja, a inserção de uma escuta qualificada nas conexões profissionais, por meio da escuta ativa, da escuta perspicaz, da escuta empática, é capaz de promover conexões mais vigorosas, alianças mais fortes e um espírito de colaboração entre os envolvidos. Líderes eficientes sabem disso. E usam ativamente em contextos que pedem negociação, engajamento, feedbacks, conexões de networking entre tantos.
Aí sim, reside o primeiro princípio da lógica da comunicação: o processo do entendimento de forma profunda. Sem ele, rompe-se essa lógica, e já se perde a própria essência da conexão! Com ele, fortalece-se o eixo da confiança e a força das organizações.
(*)Por Luciana Vianello – Mentora em competências comunicativas. Palestrante, professora, doutora pela UFMG e especialista em voz.