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Liderança com Adriana Prates

Do ego à presença

Liderar bem a distância não é ser o centro de tudo, é ter presença: algo que envolve autonomia e confiança.

 

O trabalho (e suas configurações) são temas que não se esgotam. Podem soar repetitivos e, até mesmo, cansativos. Mas sempre é possível se aprofundar mais, garimpar novas abordagens e jogar luz a particularidades pouco exploradas, mesmo com a profusão das informações digitais. A presença é uma delas. E quanto digo presença, vou além do aspecto físico, falo do seu significado como comportamento profissional.

Esse pensamento me atravessou ao ler notícias sobre empresas que voltaram à configuração presencial –  principalmente os conglomerados de tecnologia, outrora entusiastas do everywhere office. Se por um lado essa é uma tendência no mercado digital, por outro, grande parte das empresas brasileiras permanece colhendo bons resultados com o modelo híbrido –formato que apresenta o maior nível de engajamento entre colaboradores, segundo pesquisa da FGV EAESP.

E o que estaria por trás desse resultado positivo com o modelo híbrido? Claro que cada empresa tem a sua realidade e peculiaridades, mas digo uma coisa: boa parte do engajamento é impulsionado pelas práticas de liderança e, em especial, pela qualidade da sua presença. Apesar de não ocupar o mesmo espaço físico do seu time, líderes em trabalho remoto envolvem e engajam ao transmitir algo maior – disponibilidade, interesse e clareza de propósito.

Adriana Prates é CEO da Dasein.

Menos microgestão, mais propósito

Podemos notar que presença tem uma ligação estreita com a autonomia – considerada um dos principais estímulos à inovação, à criatividade e ao engajamento, como mostra pesquisa da Conquer Business School. Esse e tantos outros dados similares nos levam a refletir sobre um paradoxo interessante: à medida que o líder perde o controle direto sobre o cotidiano (no modelo flexível), cresce a necessidade de oferecer mais confiança e clareza ao time. Impulsionar a autonomia, nesse cenário, significa menos microgestão e mais foco no propósito, ajudando as pessoas a compreenderem o “porquê” e os objetivos maiores, para que tenham liberdade de escolher os “comos”.

Significa também estar presente de forma diferente – não apenas fisicamente, mas de maneira atenta e disponível, praticando uma escuta ativa que desloca o foco do ego para o outro. E ainda, criar um espaço psicológico seguro, onde a experimentação e até mesmo os erros sejam compreendidos como parte do aprendizado. Dessa forma, a liderança deixa de ser um ponto centralizador de respostas e passa a sustentar a confiança necessária para que a equipe avance, transformando a distância em potência criativa.

Autonomia e confiança são inseparáveis

Como dito acima, sabemos que a autonomia é um processo que tem como pré-requisito a confiança: elas são, na verdade, inseparáveis. Uma não floresce sem a outra. Quando o líder confia, abre espaço para que as pessoas escolham caminhos, decidam e experimentem; quando a equipe se sente autônoma, tende a retribuir com responsabilidade, engajamento e entrega de valor. Quanto mais confiança, mais autonomia; quanto mais autonomia, mais resultados sustentáveis.

Na prática, a confiança liberta o time da necessidade de provar constantemente seu valor, e isso tem efeito direto na motivação e na produtividade. Além disso, transforma a relação entre líderes e liderados, porque desloca o foco do controle para a parceria. O líder deixa de ser o centro que tudo valida e passa a ser um guardião da direção, alguém que orienta sem aprisionar. É nesse equilíbrio entre confiança e autonomia que surgem times mais maduros, inovadores e capazes de gerar impacto real.

Para os gestores que lideram, majoritariamente, a distância (em muitos casos, há apenas um encontro pessoal por mês) a presença deve ser traduzida em pequenos gestos consistentes: estar atento ao que não é dito, reservar tempo para conversas que vão além das tarefas, reconhecer conquistas e dificuldades. É a prática da escuta ativa que faz o colaborador sentir que é visto e considerado.

Mais do que multiplicar reuniões, trata-se de cultivar qualidade nos encontros, tornando-os espaços de troca e confiança, em que a pessoa percebe que não está sozinha. Quando o líder se desloca do lugar do “saber tudo” para o lugar de quem sustenta e acompanha, ele demonstra presença verdadeira, aquela que inspira, influencia e dá segurança emocional mesmo a distância.

A importância do ego

O ego faz parte da nossa natureza e tem uma importância crucial, equilibrando desejos e racionalidade na tomada de decisões. Entretanto, quando ele domina a liderança, o foco se desloca para a necessidade de provar valor, de controlar ou de ser reconhecido. Nesse modelo, o líder corre o risco de se tornar centralizador, fechado à escuta e, muitas vezes, distante da realidade da equipe.

Já a liderança com presença é aquela que, em vez de se nutrir da posição ou do poder, se ancora na escuta, na atenção e na abertura ao outro. O líder que atua a partir da presença não precisa ter todas as respostas, ele sustenta o espaço para que o time possa construir junto. Compreender essa diferença é fundamental, porque o ego, quando não é reconhecido, tende a aprisionar. Mas quando é integrado com consciência, pode se tornar combustível para a autenticidade e a coragem. Em última instância, liderar com presença significa deslocar o centro do “eu” para o “nós”, criando relações mais humanas e resultados mais consistentes.

A fortaleza que mora na humildade

Quando falamos em presença, outra característica vem à tona: a humildade. É como costumo dizer: “um líder é capaz de demonstrar presença em ostentação e humildade sem submissão”. A humildade é um dos maiores sinais de presença, porque revela um líder disposto a aprender, a ouvir e a reconhecer que não detém todo o conhecimento. Ela inspira confiança e proximidade, tornando as relações mais autênticas e colaborativas.

Como podemos notar, humildade não é submissão. A linha que as separa está na postura: a submissão enfraquece, gera insegurança e retira do líder a capacidade de sustentar seu papel; já a humildade fortalece, porque vem acompanhada de firmeza, clareza e coerência. Um líder humilde não deixa de tomar decisões difíceis ou de se posicionar com firmeza, ele apenas faz isso sem arrogância, sem precisar diminuir o outro para se afirmar. Quando equilibrada, a humildade permite ao líder demonstrar grandeza sem ostentação, autoridade sem autoritarismo e presença sem centralidade no ego.

 

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