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Educação que liberta

Velho conhecido das empresas, os programas de T&D podem ser a via ideal para estimular a capacidade crítica e criativa dos funcionários

“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. O pensamento, ventilado pelo educador Paulo Freire em meados da década de 1960, nunca esteve tão atual. Trocar o silêncio e a obediência pelo questionamento, pela vontade de fazer melhor e diferente, é emblemático para os novos tempos. Tempos marcados por transformações velozes, que exigem cada vez mais inovação, criatividade e autenticidade por parte das nações, empresas e indivíduos. Basta analisar as atuais exigências do mercado e a forma que as organizações vêm absorvendo essas demandas. Quem não inova não prospera.

Segundo especialistas, para possibilitar ambientes inovadores é preciso dar liberdade ao questionamento, ao debate de ideias, independente do setor ou nível hierárquico, já que qualquer um é capaz de identificar oportunidades e apresentar novos caminhos para a empresa. Essa postura deve ser abraçada pelas lideranças e replicada nas relações entre gerentes e colaboradores. Ainda de acordo com os estudiosos, um potencial facilitador dessa atitude é um velho conhecido das organizações: os programas de Treinamento e Desenvolvimento (T&D). O desafio é oferecer cursos de capacitação e exercícios que saiam do lugar-comum e que proponham, de fato, mudanças nas relações, que incluam todas as áreas e estimulem a inovação genuína.

Para as coachs e consultoras Ana Maria Simões, Sônia Mara e Thelma M. Teixeira, o caminho é incentivar a capacidade crítica das pessoas por meio de atividades que levem em conta a trajetória, a realidade e a necessidade de cada um. A ideia, elas defendem, é estimular uma reflexão capaz de despertar e renovar os valores, a lógica de pensamento e análise dos participantes.

Inspiradas pelos estudos do livro “Educação Fora da Caixa” e pela técnica de grupo “Word Café” (mais informações a seguir), as especialistas apresentaram esse conceito em encontro recente  promovido pelo Grupo Projetar, do qual são membros. O grupo, criado há 27 anos por profissionais de renome ligados à área de recursos humanos, dedica-se à análise e debate de temas relacionados ao desenvolvimento humano e busca refletir sobre técnicas de aprendizado que têm como pano de fundo a metodologia vivencial.

De acordo com as consultoras, é importante que as pessoas tentem enxergar por outros ângulos, que se coloquem no lugar do outro, que pensem “fora da caixa”. Para as empresas estimularem esse hábito entre seus funcionários, porém, é preciso criar mecanismos para entender as necessidades de aprendizado de cada um. “As pessoas aprendem de acordo com a sua realidade, por esse motivo é fundamental que as atividades de treinamento e desenvolvimento considerem o contexto dos participantes”, destacam Ana e Thelma.

Sônia Mara ressalta que nos últimos trezentos anos, o conhecimento humano foi direcionado por uma visão mecanicista. Hoje ele é dinâmico e biológico (sistemas complexos adaptativos). Citando Hartwell, ela afirma que as organizações não devem tentar empacotar a informação e nem as pessoas em categorias, mas sim empregar a informação para aprender e descobrir o que não é esperado. As empresas devem incentivar a interatividade, maximizar a adversidade, estimular a horizontalização nas relações e considerar o erro como aprendizado.

Outro ponto essencial, elas sublinham, é questionar a lógica do chamado “ensino autoritário”, onde o “mestre” detém o conhecimento e o aluno é um ouvinte passivo, que absorve as informações. Essa lógica também deve ser questionada nas empresas, na relação gerente-colaborador. “É importante haver uma troca de conhecimento em todas as situações, seja na sala de aula ou nas relações profissionais. Todos nós somos ‘aprendentes’. Todas as pessoas têm conteúdo a compartilhar e capacidade para ensinar. Cada pessoa carrega uma história, uma sabedoria construída ao longo da vida e isso deve ser valorizado”. De acordo com as consultoras, essa linha de raciocínio tem um diálogo com o já citado educador Paulo Freire, sobretudo com importantes obras que abordam a “Pedagogia Libertadora”, que propõe a ressignificação da relação professor-aluno.

Thelma lembra que o “pensar fora da caixa” tem sido debatido e praticado em muitas empresas,  assim como a metodologia de aprendizagem vivencial, onde os colaboradores têm a oportunidade de apresentar suas ideias e propor melhorias. No entanto, ainda há um número imensurável de organizações, que praticam processos ultrapassados de aprendizagem e de gestão, nos quais os funcionários não são ouvidos, não opinam e a capacidade crítica não é desenvolvida. “A consequência é funcionários insatisfeitos por não usarem seu potencial, além do baixo nível de inovação, quando ela existe”.

Como educar fora da caixa?

A proposta do livro “Educação Fora da Caixa – Tendência para a educação no século XXI”, organizado por Clarissa Teixeira, Ana Cristina Ehlers e Márcio de Souza, incentiva a realização de uma ação pedagógica que promova melhorias no processo de ensino-aprendizagem, considerando os diferentes contextos escolares, os interesses e necessidades dos alunos. Segundo os autores, o contexto educacional do Brasil está muito baseado na lógica “alunos nascidos no século XXI, tendo aulas com professores nascidos no século XX em escolas que se assemelham às instituições do século XIX”. O livro aponta possibilidades para se adequar à nova realidade tecnológica e propõe um aprendizado livre das amarras do passado.

De acordo com os autores, a presença dos mais diversos instrumentos digitais – dos tablets aos smartphones, incluindo suas ferramentas como o Google, redes sociais, grupos de bate-papo etc – não diminui o papel do professor, mas amplia-o significativamente ao criar novas e complexas atribuições para esse profissional. “O professor deve ser um mediador da aprendizagem, habilidoso na arte de educar seus alunos para que eles sejam ainda mais críticos com o conteúdo que consomem nas diferentes mídias e saberem construir conhecimento a partir do grande volume de informações”.

Prosa e conhecimento

“Todos têm conhecimento para compartilhar”. Essa é a premissa da metodologia World Café, criada em 1995 na Califórnia (EUA), por um grupo de executivos e acadêmicos. A partir de perguntas-chave, os participantes se dividem em pequenos grupos em mesas redondas, que lembram um café, e discutem o tema proposto para conectarem ou não as ideias em debate. Eles são estimulados a escreverem, desenharem ou rabiscarem seus insights. Ao final, os participantes compartilham e discutem cada ponto de vista.

Ana Maria Simões, Sônia Mara e Thelma M. Teixeira reforçam que cada um traz consigo seu leque de histórias, perspectivas, sonhos, ideias e saberes. “Essa metodologia é uma forma de quebrarmos a lógica do ‘um para muitos’ e enfatizar a visão sistêmica, por meio de conversas baseadas na horizontalidade e na colaboração. A empresa deve ser um ambiente aberto para críticas construtivas aos processos e serviços para que todos possam, juntos, a partir de suas experiências, propor melhorias e inovações”.

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