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Dasein entrevista: Lisiane Lemos

“A pessoa precisa olhar para o topo e ver não só apoio, mas alguém como ela lá em cima.”

Mulher negra, jovem, líder em uma multinacional. Por meio do seu próprio exemplo, Lisiane Lemos quer incentivar outras pessoas como ela a crescerem no mercado corporativo. Incentivo que vai além do apoio. Ela está a frente de ações práticas como uma rede que busca ajudar empresas que têm algum tipo de política de diversidade a encontrar profissionais negros qualificados em suas áreas. Também é co-fundadora da Rede de Profissionais Negros, o primeiro coletivo focado em mundo corporativo no Brasil, que conta com mais de 8 mil integrantes. Conselheira da ONU, eleita pela “Forbes Under 30” e palestrante do TEDx, é de sua natureza arregaçar as mangas, mergulhar de cabeça e mostrar que sim, mulheres negras podem e vão alcançar o topo.

Apesar de várias empresas estarem mais abertas à diversidade e entenderem as vantagens de uma equipe plural, na prática é preciso fazer muito. De acordo com o estudo Panorama Mulher 2019, realizado pela Talenses e o Insper, houve um retrocesso no número mulheres em cargos de liderança. Em 2018, a pesquisa, realizada com 415 empresas, constatou que a participação das mulheres como presidentes era de 15%. Em 2019, o número caiu para 13%. Como as empresas podem transformar a “intenção pró-diversidade” em ações práticas?

O primeiro ponto é acompanhar a jornada dessas mulheres desde a entrada no mundo corporativo. Vemos que em cargos de base, como trainee, aprendiz etc, têm muitas mulheres ocupando, mas isso não é suficiente para levá-las a altos cargos de liderança. Acredito que um programa de mentoria estruturada, de desenvolvimento de lideranças estruturado com foco em minorias é a chave. Foi, inclusive, onde comecei minha carreira no mundo corporativo. Além de metas, temos visto as gigantes de tecnologia estabelecerem metas de dobrarem ou triplicarem o número de líderes sêniores, de minorias, em até cinco anos. É aí que existe a real mudança.

É importante também que as empresas criem um espaço de segurança e patrocínio para que as mulheres e outras minorias possam ter voz, possam se desenvolver, ou mesmo compartilhar vagas pensando nesses grupos de afinidade.

Você concilia suas responsabilidades como executiva de uma das principais empresas mundo ao engajamento em importantes movimentos para estímulo da inclusão nas empresas e igualdade racial para mulheres. Ou seja, o exemplo vem de você. Pensando nas lideranças em geral, qual a importância deles (as) assumirem um posicionamento em prol da diversidade?

A representatividade precisa fazer sentido para as lideranças. Caso contrário, eu não estaria aqui hoje. Tive a oportunidade de trabalhar em empresas que têm a diversidade e inclusão como um dos seus pilares. Trabalhar com lideranças que enxergaram a representatividade nesses quadros, que enxergaram que eu poderia ocupar esses lugares, e mesmo ter o apoio deles, seja dizendo que, com as ferramentas certas e com foco eu chegaria ali. Me dando espaço para que eu tivesse até atividades extras e liberdade para desenvolvê-las. Ao longo da minha jornada, muitos deles me deram feedbacks nem tão agradáveis, mas foram os mais importantes para que eu conseguisse me desenvolver. Acredito ainda ser fundamental a pessoa olhar para o topo e ver não só apoio, mas alguém como ela lá em cima.

Eleita pela “Forbes Under 30”, Lisiane Lemos é considerada uma das jovens que fazem a diferença no Brasil.

Com menos de 30 anos, você foi considerada pela Forbes uma das jovens que fazem diferença no Brasil. Você citaria atitudes e habilidades que foram essenciais para a sua trajetória, desde o colégio até os dias de hoje?

Disciplina, foco e planejamento. Tive muita clareza do que eu queria e investi bastante em autoconhecimento, em ferramentas e pessoas que pudessem me ajudar nessa trajetória. Tem uma característica que também tenho ouvido das pessoas, que é a generosidade. Acho que quanto mais pessoas eu trouxer para o topo e quanto mais conexões genuínas eu puder fazer, mais eu vou crescer. Estava recentemente em uma palestra da Luiza Trajano e ela citou uma frase do Gilberto Dimenstein que faz todo sentido: “a gente é do tamanho do que a gente compartilha”. E gosto muito de compartilhar conhecimento, o que eu aprendi, os contatos que tenho, oportunidades, criar novas redes. Inclusive estou trabalhando em um projeto com alguns parceiros que quero dividir com vocês.

Quando entrei no mundo corporativo, pensei que a presidência ou um cargo de c-level seria o principal e vi que os conselhos de administração são de fato o alto nível, entender de governança corporativa e ter real influência no mercado. Por isso são cargos tão estratégicos e muito concorridos. E de acordo com a pesquisa mais recente nessa área, de 2016, não temos nenhuma pessoa preta nesses cargos. E pensei: como eu poderia influenciar esse ecossistema? Desenvolvi, então, um projeto (que em breve será lançado) focado em profissionais negros pra começar a construir essa jornada em relação aos conselhos. É algo que vai durar 10, 15, 20 anos, e talvez eu nem veja o resultado, mas já estou trabalhando em quais ferramentas eu posso compartilhar, que conexões que eu posso fazer, que pessoas posso apresentar.

Você é uma inspiração para muitas pessoas, incluindo, claro, jovens profissionais que sonham em alcançar destaque em suas carreiras. No seu caso, existem pessoas que te inspiraram ou te inspiram até hoje (sejam personalidades ou pessoas do seu convívio familiar)?

Muito difícil essa pergunta (rs), são muitas pessoas. Vou citar alguns, a Luiza Helena Trajano, por ser uma grande amiga, uma inspiração, uma pessoa generosa que me ensinou e muito e me ensina todo dia. Gustavo Werneck, presidente da Gerdau, que é meu mentor, que também é uma pessoa de uma generosidade, de um tato com as pessoas, e entende o meu “bairrismo”, a minha paixão pelo Rio Grande do Sul. Cito também o Rodney Williams, que também foi o meu mentor e foi o primeiro executivo negro que eu vi na Microsoft do Brasil. E a Rachel Maia, a primeira presidente negra que eu vi no Brasil e me fez ver que eu poderia estar nesse cargo. Essas quatro pessoas têm circundado minha mente e são minha inspiração para o topo.

Compartilhe com os nossos leitores referências intelectuais que também foram importantes para sua trajetória, para ampliar sua visão de mundo, sejam determinados autores, livros, filmes etc.

Tenho lido muito autores que falam sobre transformação digital e proteção de dados. Meu último livro foi “The future is faster than you think”, de Peter H. Diamandis e Steven Kotler. Sobre a questão racial, recomendo o livro assinado por minha mãe, Rosemar Gomes Lemos, “Ubuntu: as transformações através das acoes afirmativas”. Para quem tá com o desafio de mudança, recomendo o “Nosso iceberg esta derretendo”, primeiro livro que li na quarentena. Indico ainda “Minha História”, de Michelle Obama; “The Path Made Clear: Discovering Your Life’s Direction and Purpose” e “O que eu seu de verdade”, ambos da Oprah Winfrey; “A coragem de ser imperfeito”, da Brené Brown; “Faça Acontecer”, da Sheryl Sandberg. Por último, indico três livros sobre a indústria 4.0: “Transformação Digital”, de David L. Rogers; IoT (Internet das Coisas), de Bruce Sinclair; e “Dominando as Tecnologias Disruptivas”, de Paul Armstrong.

E hoje, como você investe em seu desenvolvimento?

Atualmente faço um MBA Executivo na Fundação Dom Cabral e tem sido incrível conviver com altas lideranças, com professores super qualificados, o que tem contribuído para abrir meus horizontes. Na área de tecnologia, tenho lido muito e feito cursos livres, relacionados a marketing digital, além de acompanhar todas as lives possíveis. E também voltei a estudar idiomas, como o espanhol.

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