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Dasein convida: Thelma M. Teixeira

A inteligência artificial vai superar os humanos?

 

Se você não tem dúvidas é porque está
muito mal informado.
Millôr Fernandes

 

Por Thelma M. Teixeira

Tenho uma enorme admiração pelo neurocientista Miguel Nicolelis. Li seu último livro, “O verdadeiro criador de tudo”, quando publicado no ano passado com um grande interesse e curiosidade e também para saber se consolidaria ou não, as minhas crenças e valores pessoais em relação ao mundo, ao ser humano e a mim.

O autor inicia o primeiro capítulo de uma forma que considerei lindamente poética: “No princípio, havia apenas um cérebro de primata. E de suas profundezas (…) a mente humana emergiu. Ilimitada, irrestrita, imensa”.

Eu, que conceituo o humano como fenômeno, ou seja, considero que as pessoas são complexas, estão em permanente evolução e desenvolvimento e, portanto, devem ser valorizadas e reconhecidas não somente pelo que são, mas também pelo o que virão a ser e ainda pela interdependência com outros seres, senti-me empolgada com as três qualidades que ele atribui à mente humana.

Thelma está olhando para frente e sorrindo

Thelma M. Teixeira é psicóloga, psicodramatista, articulista e autora do livro “Psicodrama Empresarial”

Quanto a mim, confio muito no meu cérebro, ao “jogar’’ para ele meus desejos, minhas vontades e pensar positivamente que vou conseguir. Obviamente, faço minha parte. Ajo como o provérbio árabe: “Confie em Allah mas amarre seu camelo”. A minha parte, em relação ao cérebro, é usar e cuidar bem dele. Uma piadinha na internet ilustra o que faço ao mostrar Freud dizendo: “Gente, o aplicativo cérebro é maravilhoso e todos deveriam usar”.

As criações do cérebro humano

“O verdadeiro criador de tudo”, segundo Nicolelis, é uma estória sobre as criações do cérebro humano e a posição central que ele deveria ocupar na cosmologia do universo. A sua definição de universo humano inclui a imensa coleção de conhecimento, percepções, crenças, pontos de vista, teorias científicas e filosóficas, cultura, tradições morais e éticas, realizações físicas e intelectuais, tecnologias, obras de arte e todos os outros produtos mentais emanados do cérebro humano.

Com meus parcos conhecimentos de neurociência, não seria capaz de resumir a grandeza do conteúdo do livro. Porém, quis trazer a vocês uma parte que muito me instigou e que transformei no título deste artigo.

Sabemos, pelo menos até o momento, que somente o Homo Sapiens foi e é capaz de adquirir, acumular e transmitir conhecimento específico, de gerações a gerações. Lembrei-me neste momento do historiador e escritor Yuval Harari, ao escrever, com ironia, que é muita arrogância nós nos chamarmos de Homo “Sapiens”.

Sabemos ainda que nosso cérebro tem a propriedade da plasticidade neural, o que faz com que se modifique à medida que interagimos. À interação e sincronização entre cérebros, Nicolelis deu o nome de Brainets.

Brainet é, portanto, um computador orgânico complexo, composto de múltiplos cérebros individuais que se sincronizam para, segundo o cientista, dar continuidade a mais importante missão da nossa espécie: a construção do seu próprio universo.

É a capacidade da plasticidade neural e as Brainets que geram uma diferença entre o cérebro e outros sistemas computacionais.

Destruição e construção

Infelizmente, as Brainets têm seu lado de devastação, de destruição humana (me vem à mente, fanatismo e grupos radicais) porém, o outro lado de construção e preservação, a saber, grupos humanos na produção de avanços intelectuais e tecnológicos da humanidade é admirável e nos envaidece. Nas organizações e nas relações interpessoais, destaco os trabalhos de desenvolvimento humano e de equipe (minha área de atuação) no qual são trabalhados o autoconhecimento, as comunicações autênticas, a colaboração e cooperação e a interdependência com vistas a resultados organizacionais.

Nicolelis nos alerta que a semântica, dinâmica e rica, que caracteriza as funções cerebrais não são reduzidas a uma sintaxe algorítmica limitada, como a empregada por computadores digitais. A frase a seguir nos remete ao título deste artigo e, a meu ver, nos conforta: considera utopia que máquinas digitais serão capazes de simular a inteligência humana e que irão superar-nos no pensar, comportar e viver como seres humanos.

É interessante lembrar que a palavra robô (que é tcheca – robota), criada há cem anos, significa trabalho escravo e que eles foram pensados, além de outros usos, para substituir soldados na guerra. A minha experiência com robôs restringe-se àqueles de lojas em compras online. Jamais consegui resolver minhas dúvidas, além de ficar irritada com aquela repetição padronizada. Como sinto falta, nestes momentos, de poder falar com um cérebro orgânico.

Cérebros orgânicos possuem outros modos de se conectar e processar informações mais versáteis e eficientes do que os computadores e, portanto, não estamos à beira de uma revolução da inteligência artificial capaz de criar computadores superiores ao nosso cérebro, afirma o neurocientista.

“A máquina só vai trabalhar sozinha se a humanidade decidir”

Em uma entrevista à Folha de São Paulo, o compositor e cantor Gilberto Gil diz que a configuração da biociência vai se desenvolvendo, vai dando ao cérebro humano nova capacidade de expansão de seus potenciais e que a máquina só vai trabalhar sozinha se a humanidade decidir em determinado momento que a gente não quer mais a bioexistência; que queremos a existência maquínica e aí entregamos tudo para a máquina. No entanto, completa: Por mais maquínicos que estejamos, nossa autonomia biológica ainda é muito forte, o projeto humano é muito forte.

O que o neurocientista nos ensina sobre isso? “A nossa imersão contínua e crescente com novas tecnologias digitais (….) podem corromper e rapidamente deteriorar a básica operação do nosso cérebro de primata, seu alcance e seu espectro único de ação, sem mencionar a sua capacidade inerente de gerar tudo o que define o esplendor e a particularidade da condição humana”.

Relata seu receio de que o cérebro com sua alta plasticidade decaia progressivamente e se transforme em uma máquina digital biológica, condenando a espécie humana a viver como “zumbis de inteligência não mais que mediana” Acredita que quanto mais formos cercados por um mundo digital e submissos à lógica algorítmica, cada vez mais o nosso cérebro tentará imitar o modo digital. Esta hipótese “do camaleão digital” prevê que, caso isto ocorra, atributos humanos como empatia, compaixão, criatividade, ingenuidade, intuição, imaginação, pensamento “fora da caixa”, discurso poético e metafórico, altruísmo e outros vão sucumbir.

É de estarrecer ler isto, especialmente nós que trabalhamos com desenvolvimento humano. Entretanto, o penúltimo capítulo Suicídio ou Imortalidade: a escolha decisiva do verdadeiro criador de tudo, do qual copiarei uma frase, nos traz esperança – “a visão cerebrocêntrica propõe que os seres humanos assegurem o seu legado coletivo como criadores do universo humano e jamais renunciem ao controle do próprio destino”.

Um grande alento ler isto do renomado neurocientista, uma vez que acredito e quero continuar acreditando que o ser humano, individual e coletivamente, tem e terá a capacidade de questionar, de pensar criticamente, de se indignar e se desenvolverá nesta direção. Como disse alguém “Não é necessário ser cientista ou estar numa carreira científica para empregar o conhecimento científico na sua vida. O importante é criar esse pensamento crítico: duvidar, questionar, investigar”.

Que possamos, ao usar e cuidar do nosso cérebro e interagir com outros (brainets), construir um mundo melhor.

Thelma M. Teixeira é psicóloga, psicodramatista e especialista em Administração de Empresas. Articulista e autora do livro “Psicodrama Empresarial”.

 

 

 

 

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