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Carreira executiva: entrevista com Jandaraci Araújo

“Não cabe mais a desculpa que não há mulheres preparadas para ocuparem posições de liderança, principalmente quando falamos de mulheres negras.”

 

Até conquistar o topo, Jandaraci Araújo, considerada uma das conselheiras administrativas mais proeminentes do mercado, atravessou um percurso sinuoso e precisou batalhar para abrir novos caminhos. Nascida na Bahia, foi para o Rio de Janeiro (RJ) em busca de oportunidades. Começou vendendo salgados nos trens cariocas até chamar atenção de um professor ligado a uma rede de varejo que a convidou para trabalhar na empresa. Fez sua carreira lá e atuou no segmento por 20 anos, até traçar outras rotas.

Estudou, se preparou, investiu em desenvolvimento no setor de finanças. Entre as diversas posições que ocupou, foi subsecretária de empreendedorismo, pequenas e médias empresas do estado de São Paulo e diretora executiva do Banco do Povo, onde marcou época sendo a primeira mulher negra a ocupar um cargo de grande importância na instituição.

Hoje é conselheira independente de administração do Instituto Inhotim e do Instituto Tomie Ohtake, além de conselheira emérita do Capitalismo Consciente Brasil. Também é palestrante, professora de finanças e consultora. Para apoiar a ascensão feminina nas empresas, cocriou o Conselheiras 101, programa que busca incluir mulheres negras em conselhos de administração. Em conversa com a Dnews, ela conta mais sobre sua trajetória e inspirações. Acompanhe e inspire-se também.

Segundo o Women Corporate Directors Foundation (WCD), entre 2021 e 2022, o número de mulheres nos conselhos de administração no Brasil saiu de 124 para 133, crescimento de 7%. E as mulheres negras representam somente 4,2% desses cargos. O avanço está acontecendo, mas de maneira muito lenta. Como acelerar a presença feminina no alto escalão, sobretudo, a presença de mulheres negras?

Para acelerar esse processo é preciso que tenhamos igualdade de oportunidades, que haja programas intencionais dentro das organizações na pauta de equidade de gênero e racial. Não cabe mais a desculpa que não há mulheres preparadas para ocuparem posições de liderança, principalmente quando falamos de mulheres negras. Programas de trainee são importantes, mas não só. Existem vários programas de formação de liderança para mulheres, como por exemplo o EBWL, da Will Women in Leadership Latin America.

Falar que quer promover a equidade de gênero e racial criando programas de mentoria para mulheres e negros está ficando old. Precisamos criar mentorias para líderes com foco anti-machista e anti-racista.

 

É consenso que investir em educação é a melhor forma de preparar uma mulher para postos de liderança. Mas estar apta não basta, já que muitas executivas perdem a disputa para homens com o mesmo preparo. Pensando em mulheres que já têm cargos de liderança, mas desejam crescer, é necessário que elas invistam também no comportamental, em atitudes que ajudem a quebrar a barreira do preconceito nas empresas?

Todo profissional, independente de gênero, deve investir em aprimorar suas soft skills, rever comportamentos, etc. Durante muito tempo acreditava-se que tínhamos que nos comportar como os “homens” para termos respeito. Essa é uma visão extremamente sexista e antiquada, para dizer o mínimo. Para crescer, precisamos que as organizações criem uma nova cultura, mais atualizada a uma nova realidade.

 

Vendas, marketing, educação, gestão, liderança. Segundo o Linkedin, você transitou por mais de 20 áreas – e se destacou em todas elas. Conte para os nossos leitores sobre a sua história profissional e como essa vasta experiência agrega a sua vida hoje.

Acho que o Linkedin viu além, rs. Talvez o fato de ter sido empreendedora me qualifique para outras competências. Ter atuado em várias áreas me fez ter uma visão 360º da organização, contribuindo muito para atuar em conselhos de administração. O fato de ter trabalhado no varejo durante anos permitiu que eu tivesse atuado em áreas diferentes, mas sempre ligada ao setor de compras e marketing. Foi no varejo que comecei minha transição para a área financeira e, na sequência, para área acadêmica. E mais recentemente para os conselhos de administração e fiscal.

Ainda sobre sua trajetória profissional, quais foram os principais desafios e conquistas que podem inspirar outras mulheres negras?

O principal desafio foi sempre ser vista como uma profissional, para além da minha cor. A ausência de oportunidades e lidar com o machismo e racismo, que partia inclusive de pares e liderados. Mais sobre isso vou contar no meu livro, onde irei dividir, em detalhes, minha vida profissional e pessoal.

Ao conciliar cargos de conselheira em importantes instituições à luta para a inclusão de mulheres negras no alto escalão (como a cofundação do Conselheiras 101), você é o exemplo em pessoa. Nas empresas em que você atua, as mulheres podem olhar para o topo e se enxergarem lá. Qual é o poder dessa mensagem para aquelas que estão começando?

Acredito que a mensagem que fica é que todas as mulheres podem chegar onde quiserem. Que apesar das dificuldades, podemos chegar.

Você é uma inspiração para muitas pessoas. Gostaríamos de saber quais mulheres inspiraram seu caminho profissional e seu olhar sobre a representatividade.

Tiveram várias mulheres ao longo da minha carreira, talvez algumas delas nem imaginem como Cidinha Fonseca, Maria Silvia Bastos, Eleni Cordeiro. Essas mulheres que citei são minhas referências lá do início da minha carreira quando uma estagiária, ex-vendedora de salgados, estava começando a criar uma nova história.

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