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Lideranças contra a produtividade tóxica

Lideranças anti-burnout conduzem modelos de gestão que conectam a produtividade ao bem-estar

“Seja a sua melhor versão”. A transformação desse bem-intencionado pensamento em uma autocobrança exagerada, é um exemplo que diz muito sobre uma sociedade marcada pelo cansaço – como apontou, de forma certeira, o filósofo sul-coreano Byung-chul Han.

É, inclusive, com a ampliação das reflexões propostas em sua obra, que cresce o número de gestores e profissionais que questionam o chamado “paradigma do desempenho” – a alta pressão (interna e externa) para superar os próprios limites e assumir uma persona forte, com total controle de seus sentimentos. Condutas que, como vemos hoje, têm gerado um efeito contrário ao esperado, como a paralisia e a autodepreciação, resultantes de uma produtividade cada vez mais tóxica.

Para lidar com temas tão complexos, Adriana Prates, CEO da Dasein EMA Partners Brazil, destaca a importância de conhecer, ressignificar e aprender com os comportamentos do passado: prática que ajuda a ter mais lucidez sobre o presente e seus desafios.

Adriana Prates é CEO da Dasein EMA Partners Brazil

“Antigamente se dizia que as pessoas deveriam separar a vida pessoal da profissional, o que é uma grande falácia. Essa ideia de afastar o ‘pessoal’, de negar emoções e sentimentos das pessoas, remonta à revolução industrial. E se prestarmos atenção, em essência, será que as coisas mudaram? No que tange as relações entre empregados e empregadores, é preciso fazer uma reflexão, principalmente sob o prisma da saúde mental no trabalho, da insegurança psicológica e a negação da felicidade nos corredores corporativos.”

A executiva destaca que, ao longo da história, são recentes as ações que vêm ao encontro do bem-estar. Inicialmente elas privilegiavam as necessidades básicas (fisiologia e segurança), como mostrava a Pirâmide de Maslow, na Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas. “Chegamos na era em que os últimos estágios dessa pirâmide se tornaram um imperativo: relacionamento, estima e realizações pessoais. As empresas começaram, ainda que na escuridão, a buscar caminhos rumo à motivação, ao combate ao absenteísmo, queda da produtividade, a falta de engajamento, o presenteísmo e, mais recentemente, a síndrome de burnout.”

Em muitos casos, esses desafios estão sendo analisados sob o viés de como a empresa contribui para o adoecimento dos empregados e como ela pode reverter isso, proporcionando ambientes produtivos, sem abrir mão do bem-estar. “A partir dessa gênese, cria-se uma consciência mais ampla do que é ‘ser no mundo’. O ponto central dessa questão é deixar de ver as pessoas como recursos, desprovidas de sentimentos, e passar a vê-las como indivíduos que possuem sonhos, ambições, necessidades de reconhecimento e aconchego.”

A importância de ressignificar modelos mentais

Estimular a reflexão e meios de ressignificar certas convicções do passado é parte do trabalho de estímulo ao bem-estar e à produtividade sustentável realizado pela Samarco, como alega seu presidente, Rodrigo Alvarenga Vilela. “Contemplamos as dimensões de prevenção, promoção e tratamento, alinhado a um outro importante projeto de evolução cultural. A estratégia do programa é sustentada por ações de desenvolvimento humano para a ressignificação de crenças, modelos mentais e comportamentos das lideranças, especialmente, mas também pela intervenção em símbolos e sistemas que reforcem a importância da saúde e bem-estar.”

Além disso, a empresa realizou recentemente um diagnóstico de maturidade organizacional em saúde mental, cujos resultados, associados à pesquisas de clima, tem servido como importante instrumento para engajamento das lideranças com as políticas de bem-estar. “Na medida em que proporcionamos uma compreensão mais profunda e detalhada de cada área, cada liderança acessa sua realidade de forma mais específica e pode atuar diretamente sobre os fatores organizacionais que podem afetar a qualidade do ambiente de trabalho.”

O papel das altas lideranças na cultura de bem-estar

Envolver CEOs e lideranças C-level em projetos de combate à produtividade tóxica e que impulsionem o bem-estar, é um caminho que tem sido seguido em muitas organizações, já que o alto escalão contribui para o engajamento de outros líderes e da força de trabalho como um todo.

Rodrigo Alvarenga Vilela é presidente da Samarco.

Para Vilela, esse não é apenas o melhor, mas o único caminho a ser seguido. “Por mais que possamos oferecer e viabilizar o acesso de nossos times a recursos e ações de suporte no cuidado com a saúde e bem-estar, para que o resultado seja efetivo é necessário que cada indivíduo faça o movimento em busca do autocuidado – e, nesse sentido, a liderança tem um papel fundamental de orientação, direcionamento e incentivo.”

Na Dasein EMA Partners Brazil, há uma preocupação em desenvolver líderes empáticos e funcionais em relação à saúde física e mental e ao clima organizacional. “Essas lideranças, precisam, realmente, ter uma consciência acerca do autocuidado”, ressalta Adriana Prates. “O líder está mais exposto e de nada vai adiantar ele ter uma atitude de maior compreensão com a equipe, se ele não tem bons hábitos, não estabeleceu uma rotina saudável para si. A coerência entre o que se diz e o que se faz é um imperativo. Encontrar líderes que, além de darem bons exemplos, conseguem oferecer perspectivas de carreira, conversas construtivas e que tenham a criatividade necessária para evitar uma rotina maçante ao time, é algo cada vez mais raro de ser identificado. São essas pessoas que vão liderar o nascimento de uma nova cultura para reger nossos tempos.”

A liderança tem um papel fundamental de orientação, direcionamento e incentivo ao autocuidado.

Segundo o diretor de Remuneração e Relações do Trabalho da Atento Brasil, Márcio Reis, o empenho em criar uma cultura que promova o bem-estar é resultado do envolvimento direto das lideranças da empresa. Com o entendimento de que dedicação excessiva não representa qualidade, a organização investe na preparação de suas lideranças, visando a produtividade sustentável. “Em 2022 foram mais de 242 mil horas de treinamento para líderes – incluindo webinars, painéis e cursos EAD, que os capacitaram sobre liderança, gestão de conflitos, comunicação, metodologias ágeis, entre outras.”

Outro fator que contribui para um ambiente de trabalho mais saudável é contar com a diversidade entre as lideranças. “60% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres e pessoas negras. Além disso, todos os diretores e gerentes participam de ações como os grupos Aliados LGBTQA+ e Geracional 50+, que têm o papel de impulsionar a cultura de diversidade na empresa por meio de ações de comunicação e engajamento, além de promover conexões para promoção da diversidade estratégica.”

A neurociência em prol da produtividade saudável

Os avanços da neurociência têm beneficiado, de forma crescente, modelos mais saudáveis de gestão. O que antes era observado por lideranças de forma empírica, vem ganhado consistência por meio de dados em estudos científicos. As pesquisas mostram, principalmente, a eficácia de práticas ligadas à segurança psicológica, à vulnerabilidade, à humildade ao liderar e trabalhar em flow – produzir de forma motivada.

Márcio Reis é diretor de Remuneração e Relações do Trabalho da Atento Brasil.

“Por meio desses estudos, as lideranças poderão descobrir que o racional vem do emocional e não o contrário. O que pensamos vem do que sentimos”, sublinha Adriana Prates. Ela explica que nenhum argumento puramente racional será capaz de convencer alguém a fazer uma mudança, alterar a rota ou entregar um projeto de forma impactante.

“Há de se estar por inteiro. Líderes que estão nessa posição pelo poder ou busca de maiores ganhos financeiros e que não entendem a nova matemática da vida podem ter sua carreira abreviada. Apesar de ainda vivermos em um mundo que valoriza o ‘ter’ em detrimento do ‘ser’, vem crescendo o reconhecimento do ‘sentimento’ como o novo ouro.”

Rodrigo Alvarenga Vilela conta que, na Samarco, as abordagens sobre saúde e bem-estar não tratam a neurociência de forma explícita, mas toda a estratégia de desenvolvimento de lideranças está pautada nos fundamentos dessa ciência, especialmente no que se refere à influência do comportamento humano para a qualidade do ambiente de trabalho.

“Por meio do Programa de Evolução Cultural, temos direcionado nossos esforços para assegurar um ambiente de trabalho psicologicamente seguro, onde as pessoas possam ser quem elas são e se manifestarem em qualquer circunstância. Acreditamos que só assim seremos capazes de seguir aprendendo e inovando para transformar nosso futuro.”

Com a neurociência, as lideranças poderão descobrir que o racional vem do emocional e não o contrário. O que pensamos vem do que sentimos.

A empresa também tem avançado na implementação do people analytics, afirma o presidente. “Entendo que estudos baseados em dados poderão nos conduzir à tomada de decisão de forma mais objetiva, contribuindo para maior assertividade de nossas ações. Em 2022 realizamos dois importantes estudos sobre produtividade e diversidade, equidade e inclusão. As conclusões obtidas por meio dessas iniciativas indicaram novos caminhos e oportunidades para ação e melhoria de nossos processos, com impacto direto sobre a experiência de empregado. Iniciamos também a construção de um modelo preditivo dos riscos em saúde e estamos otimistas que, num futuro próximo, poderemos atuar preventivamente e, inclusive, desenvolvermos soluções cada vez mais personalizadas e focadas na necessidade do indivíduo, contribuindo para o aumento de sua satisfação com o trabalho.”

Jamile Sabatine Marques é diretora de Fomento e Inovação da ABES.

Já a Atento Brasil, como destaca Márcio Reis, utiliza o “neurotraining”, técnica que respeita a fisiologia humana e, com base na compreensão do funcionamento do cérebro (neurociência), explora os processos de atenção e memorização. “Isto se dá por meio de soluções educacionais diferenciadas e adaptadas à necessidade do conteúdo. A ideia deste treinamento é melhorar a experiência durante o processo de capacitação, proporcionando um aprendizado mais interativo, no qual o colaborador participe ativamente da construção do conhecimento.”

A disseminação de práticas que incentivem a saúde emocional e a segurança psicológica é parte importante do trabalho da Associação Brasileira das Empresas de Softwares (ABES). Segundo a sua diretora de Fomento e Inovação, Jamile Sabatine Marques, o setor de tecnologia foi primordial durante a pandemia, dando suporte para a transformação digital das empresas, e até hoje é um dos mais demandados do mercado.

Como parte deste propósito, a associação aderiu à Rede Brasil do Pacto Global, ligada ao Pacto Global da ONU, a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo. Um dos objetivos é contribuir para que empresas deste segmento desenvolvam ações voltadas ao impulsionamento do bem-estar e da produtividade sustentável por meio de quatro pilares de assistência: jurídica, social, financeira e psicológica – trabalhando a prevenção e a promoção da saúde emocional. “Além do trabalhador, toda a sua família pode utilizar o serviço”, destaca Marques.

Como o executive search atua contra a produtividade tóxica?

A Dasein EMA Partners Brazil trabalha em duas linhas de frente: a consultoria de executive search e programas de carreira e sucessão. Na primeira, orientamos os clientes acerca da nova realidade, da importância de atrair líderes que tenham bom equilíbrio entre a orientação para pessoas e a orientação para resultados – profissionais que compreendam e exerçam práticas contra a exaustão e adoecimento psíquico nas empresas.

“Feito isso partimos para identificar pessoas no mercado que tenham conexão com esse tipo de necessidade. As nossas ferramentas irão nos mostrar se por trás dos bons profissionais existem boas pessoas. É esse entendimento que favorece com que apresentemos aos nossos clientes os líderes com capacidade de transformação e mudança.”

A segunda frente de atuação funciona, inclusive, como uma etapa anterior à primeira. Ela diz respeito aos programas de carreira e sucessão das empresas, momento que orientamos sobre a relevância de desenvolver os jovens talentos com uma abordagem sistêmica. “É a ocasião onde destacamos a necessidade de construção da cultura do bem-estar nas empresas e podemos identificar, com maior clareza, os profissionais com maior propensão a serem líderes mais equilibrados e facilitadores dos que terão uma dificuldade maior em perceber essas necessidades de evolução.”

Doze ações para reduzir o estresse

A CEO da Dasein EMA Partneres Brazil, Adriana Prates, compartilhou estudo, realizado pela Universidade de Michigan (EUA), que aponta 12 ações recomendadas às lideranças no combate a agentes estressores e no auxílio ao gerenciamento dos próprios níveis de estresse. Acompanhe:

1. Realizar reuniões em lugares abertos e em movimento;

2. Promover o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal;

3. Acompanhar de perto e monitorar se existe equilíbrio entre as cargas de trabalho, demandas por entregas, agendamentos de reuniões e cronogramas dos colaboradores;

4. Incentivar os liderados a usarem o tempo de férias;

5. Incentivar o trabalho em home office;

6. Promover o bem-estar no ambiente de trabalho com momentos e locais para descompressão;

7. Oferecer programas de bem-estar corporativo. Realizar ações para incentivar alimentação saudável, atendimento psicológico (saúde mental), educação financeira, atividades físicas e de lazer;

8. Participar de treinamentos para lideranças;

9. Criar metas e planos de carreira para a equipe;

10 .Ter uma comunicação transparente;

11. Liderar pelo exemplo;

12. Buscar ativamente fornecer feedbacks.

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