“É cada vez mais inegável a força que esse tipo de marketing tem nos tempos atuais”
Produzir conteúdo, formar comunidades, gerar relacionamento, criar tendências. A era dos influenciadores digitais traz novas oportunidades de carreira para pessoas e de comunicação para as marcas. Uma pesquisa do Ibope apontou que 50% dos internautas brasileiros já compraram algum produto indicado por um influenciador.
É nesse cenário de novas possibilidades que buscamos entender um pouco mais os desafios da carreira de uma influencer. Para isso, conversamos com Júlia Ferreira. Somando mais de 60 mil seguidores no Instagram, Júlia é formada em Comunicação Social na UFMG e é gerente comercial do blog Chata de Galocha, fundado em 2007 e um dos pioneiros da internet brasileira a falar sobre moda, maquiagem, viagens e estilo de vida.
Neste período, redes sociais mudaram, plataformas nasceram e morreram e tecnologias modificaram a forma com que pessoas se comunicam. Em um cenário tão efervescente, Júlia traça um panorama sobre a carreira de influencer, com seus desafios e oportunidades.
O relatório “The State of Influencer Marketing 2020” apontou números importantes para demonstrar a força do marketing de influência. Segundo o levantamento, esse mercado tem uma previsão de crescimento de U$ 9.7 bilhões em 2020. Considerando toda essa dimensão econômica, como você define o que é ser uma influenciadora digital?
Acho que existe uma grande diferença entre os termos “influenciador digital” e “criador de conteúdo”. Ao meu ver, o segundo é a forma correta de se intitular as pessoas que trabalham com marketing de influência. É cada vez mais inegável a força que esse tipo de marketing tem nos tempos atuais, e como muitas vezes esse “novo” marketing pode ser o ideal para alavancar as vendas de determinados produtos e serviços.
Apesar de ainda vermos uma certa resistência quando falamos sobre a validação do marketing de influência, principalmente dentro de empresas mais tradicionais, as campanhas e ações com criadores de conteúdo têm maiores chances de terem um ROI positivo, uma vez que a audiência desses perfis são mais “nichadas” do que se comparado às mídias tradicionais.
Um ponto importante a ser falado é que apesar de sabermos do poder do marketing de influência, para uma ação ser bem sucedida é necessário que as agências e marcas entendam que as campanhas pensadas para esse formato devem, antes de tudo, levar em consideração as audiências e necessidades específicas de cada criador.
Além de ter um dia a dia de influenciadora digital, você exerce uma função executiva de gerente comercial do portal de conteúdo Chata de Galocha, em parceria com sua irmã, a também influenciadora Luísa Ferreira. Como a sua experiência na gestão de negócios afeta diretamente a sua rotina de influencer?
Trabalho há sete anos como gerente comercial do Chata de Galocha, um dos blogs pioneiros do Brasil, com treze anos de história. Ao longo de todos esses anos foi perceptível o amadurecimento não só dos nossos conteúdos, mas também do marketing de influência.
Em um mercado como esse que está em constante mudança é necessário estar sempre atento às novidades e reagir a essas mudanças na mesma velocidade, algo que fazemos muito bem no Chata de Galocha.
A oportunidade de trabalhar com diversas multinacionais enquanto diretora comercial, como L’Oreal, B2W, Samsung e outras, me possibilitou entender como esse mercado funciona internamente, o que foi de grande ajuda quando comecei a me colocar como criadora de conteúdo.
Outros valores muito importantes aprendidos no Chata de Galocha foram, principalmente, a ética e transparência quando falamos de publicidade e também a qualidade nos conteúdos.
A constante especialização é essencial em qualquer tipo de carreira, das tradicionais às mais modernas. Como você entende a importância da capacitação formal no mercado em que está inserida?
Antes de pensar em trabalhar nesse mercado me formei em Comunicação Social com ênfase em Relações Públicas pela Universidade Federal de Minas Gerais em 2013. Na faculdade tive a oportunidade de cursar matérias de quatro áreas da comunicação: Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Jornalismo e (na época) Rádio e TV.
Apesar de naquela época o curso não ter praticamente nenhuma disciplina voltada para a internet, consigo incorporar no meu trabalho atualmente diversos conteúdos aprendidos na faculdade.
Esse background da Comunicação me fez ter uma visão mais clara do mercado de marketing de influência.
Mudamos de Orkut para o Facebook e Twitter. Hoje, a transição para o Instagram está consolidada e o TikTok já soma quase 1 bilhão de usuários. Após os blogs, vieram os conteúdos em vídeo do YouTube. Como lidar com o desafio de se adaptar a essas mudanças, antecipar (e ditar) tendências para se manter relevante?
É realmente um grande desafio se manter atualizado em um mercado que muda quase que diariamente. Mais difícil ainda quando consideramos que a maioria dos criadores de conteúdos digitais têm pouca ou nenhuma ajuda externa para criar seus conteúdos.
É praticamente impossível criar conteúdos relevantes e que geram engajamento para todas as redes sociais disponíveis atualmente sem uma equipe, e por isso acredito que nesse sentido o menos é mais, sendo mais interessante criar conteúdos para poucas redes com mais qualidade do que tentar abraçar todas.
Infelizmente, por esse mesmo motivo, muitos criadores acabam se tornando reféns das plataformas, o que pode ser frustrante uma vez que estamos à mercê das mudanças de diretrizes internas de cada uma delas.
Uma forma de tentar reduzir esse efeito é ser dono de seu próprio portal ou blog, mesmo que ele sirva apenas como um hub dos seus conteúdos originários de outras redes. Dessa forma sua audiência saberá onde te encontrar mesmo que você migre de plataforma.
É muito importante estar sempre atento às tendências previstas em eventos como o SXSW, Vidcon, e também ao brasileiro Fire, criado pela Hotmart, uma das maiores startups de produtos digitais do país. Esses momentos também são extremamente importantes para networking e trocas de experiências com outros criadores.
Muitas pessoas têm o desejo de ter uma carreira como influenciadores, o que gerou até mesmo o surgimento de cursos de graduação para a atuação. Qual a sua opinião a respeito desse tipo de capacitação? Qual conselho daria para alguém que deseja trabalhar de alguma forma no mercado de influência?
Pessoalmente não acredito em uma formação acadêmica formal para o mercado de criação de conteúdo. Contudo, é sim necessário sempre estar em busca de novas habilidades e fazer cursos específicos que irão agregar no seu dia a dia enquanto criador para as redes sociais, como por exemplo fotografia, edição de vídeos e fotos, redação e diversos outros.
O mundo acadêmico ainda é muito engessado e não consegue acompanhar a velocidade de mudanças nas redes, então pode ser mais interessante investir tempo e dinheiro nessas alternativas. Existem diversos cursos de altíssima qualidade feitos inclusive por criadores de conteúdo voltados para capacitar quem deseja integrar o mercado.