Parceiro exclusivo da Dasein no Brasil, Lee Ellis acaba de lançar mundialmente seu livro “Leadership Behavior DNA”, metodologia inovadora que investiga as diferenças individuais e o comportamento humano. Nesta entrevista, ele fala mais da obra realizada em co-autoria com Hugh Massie e como ela pode auxiliar no desenvolvimento de lideranças.
A metodologia “Leadership Behavior DNA” (DNA do Comportamento de Liderança) é o tema central do seu novo livro, em parceria com Hugh Massie. Para os brasileiros que ainda não conhecem as vantagens dessa metodologia, você poderia enfatizar a sua importância para o crescimento de profissionais e empresas?
O desafio de lidar com as diferenças individuais do comportamento humano tem estado presente em todas as famílias e nos ambientes de trabalho desde o início dos tempos. No entanto, ser capaz de identificar e administrar, consistentemente, essas diferenças nunca foi na verdade uma iniciativa adotada efetivamente na sociedade, especialmente no ambiente de trabalho.
Compreender comportamentos naturais e inatos nos possibilitaria administrar melhor os nossos pontos fortes e fracos, adaptando as nossas expectativas e a nossa forma de comunicação para nos relacionarmos melhor com os outros, o que é essencial para desenvolver uma boa liderança, um trabalho em equipe colaborativo e, principalmente: o sucesso da missão.
Como essa compreensão básica do comportamento natural é adquirida por nós desde cedo, amigos e colegas começaram a nos solicitar ajuda em diversas situações relacionadas aos negócios – particularmente em áreas relacionadas à esfera dos recursos humanos: contratação, gestão, motivação, desenvolvimento e retenção de pessoal. Após adquirirmos insights utilizando outras ferramentas de avaliação – algumas das quais criadas, registradas e usadas por nós -, estava claro que era necessário desenvolver e aprimorar uma nova forma de avaliação que incorporasse, ao mesmo tempo, as mais recentes pesquisas e a nossa profunda experiência adquirida após anos de coaching e treinamento de clientes.
Este esforço nos levou ao melhor assessment sobre o comportamento do DNA do mercado, empregando oito fatores comportamentais que representam 16 traços poderosos. O alicerce científico deste novo livro foca em compartilhar estes traços de desempenho, os quais acreditamos ser a solução para trabalhar de forma bem-sucedida com as pessoas e ter êxito em todos os tipos de relações.
Como foi o trabalho colaborativo com o Massie e qual é o principal benefício da união de experiências tão valiosas?
O Hugh e eu somos ao mesmo tempo semelhantes e diferentes em nossos talentos. Nós tendemos a ver o mesmo panorama geral rapidamente, mas podemos responder de forma diferente porque os nossos traços são diferentes. Obviamente, nós também tivemos experiências diferentes, assim como nossa paixão e vocação.
Se você nos considerasse apenas pelas nossas antigas profissões, você jamais esperaria que nos tornássemos colegas de equipe. Não havia nada nas nossas experiências anteriores que indicassem que a nossa paixão e vocação estaria focada coletivamente na área do comportamento humano.
Na minha primeira profissão eu era oficial da Força Aérea dos Estados Unidos, piloto de caça e instrutor de voo, com cargos de liderança em todos os níveis ao longo de vinte e cinco anos, até eu me aposentar como coronel. O Hugh cresceu na Austrália e se tornou um contador público reconhecido em Sidney, Singapura e Bangkok, trabalhando em cargos de liderança em uma das mais reconhecidas firmas de contabilidade, antes de fundar a sua própria empresa de gestão patrimonial em Sidney.
Agora, já faz aproximadamente 20 anos que nós começamos a dialogar sobre o nosso interesse comum a respeito do comportamento natural e sobre como o investimento em talentos naturais poderia nos ajudar a atingir diferentes objetivos no ambiente de trabalho. Nós celebramos as nossas diferentes perspectivas que tornam a metodologia mais holística no sentido de compreender o comportamento humano.
Compreender profundamente as diferenças e saber administrá-las para ganhar comprometimento e produtividade. Este é um dos benefícios da metodologia “DNA do Comportamento de Liderança”. Ao ler o livro, é possível que o leitor coloque este conceito em prática no seu dia a dia de trabalho? Como ele poderia fazer isso?
O que muito prejudica o trabalho em equipe é o fato de as pessoas serem elas mesmas. Esta é a realidade. Cada pessoa é única e, em geral, as pessoas que mais necessitamos em nossas vidas e no trabalho são aquelas mais diferentes de nós – o que geralmente as tornam as mais difíceis de nos relacionarmos. Esta importante constatação é crucial ao estabelecer a confiança necessária para formar equipes integradas – equipes que possam trabalhar sob estresse e que possam superar os desafios de um mundo altamente competitivo que se modifica rapidamente.
Primeiramente, nós devemos aplicar a “Platinum Rule” nas nossas interações diárias – “Faça para os outros o que gostariam que fizessem para você”. Apesar de ser uma regra muito simples, é muitas vezes difícil compreendê-la e sempre desafiador praticá-la. Nós nos referimos a esta regra muitas vezes ao longo do livro devido a sua importância.
Em segundo lugar, se você identificou e removeu alguns dos seus filtros limitantes e das suas lentes distorcidas (ou tendenciosas), você será capaz de observar os outros a partir de uma perspectiva mais apurada e equilibrada. Este tipo de conscientização possibilitará que você experimente os benefícios poderosos e positivos das diferenças individuais.
Em vez de esperar uniformidade das necessárias e divisoras diferenças individuais (como talento, motivações, interesses, necessidades e estilos), equipes bem-sucedidas celebram as diferenças e focam nos atributos que as unem (missão, comprometimento/lealdade, valores organizacionais, oportunidades e diretrizes/disciplina). Quando há um desacordo ou uma confusão entre estas duas listas (diversidade e uniformidade), é provável que ocorra uma ruptura na confiança, na integração, no comprometimento e no trabalho em equipe. Faça da clareza uma prioridade.
Em 1967 você foi prisioneiro de guerra no Vietnã e conseguiu transformar esta drástica situação em um aprendizado honroso. Como essa experiência contribuiu para o desenvolvimento do “DNA do Comportamento de Liderança”?
Durante o período como prisioneiro de guerra no Vietnã, as condições de vida variavam entre o isolamento total e celas com de quatro a seis pessoas, mas no final eu passei dois anos preso em uma grande sala com 52 companheiros de cela que eram tripulantes de voo muito determinados e competitivos. Não havia paredes nesta cela de aproximadamente 170 m², que estava entupida de pessoas. Os prisioneiros de guerra dormiam grudados em camas de concreto suspensas. Havia momentos difíceis, mas era um laboratório perfeito para aprender sobre a natureza humana e praticar a “Platinum Rule” (citada na pergunta anterior) – muito antes de ser nomeada como tal.
Com pouco a fazer, a maioria de nós concluiu que era uma boa oportunidade para crescer e se desenvolver. Em pouco tempo, nós organizamos um programa educacional com aulas acadêmicas formais seis dias por semana. Era opcional, mas a maioria das pessoas se interessou em algumas aulas. O trabalho em equipe naquela cela foi memorável.
Nós organizamos tudo, designávamos e revezávamos as funções e, o mais importante, nós aprendemos sobre o poder de respeitar e cuidar dos outros – até aqueles que mais nos irritavam. Apenas duas vezes, nestes 20 meses, alguém levantou a voz para o outro e, nos dois casos, eles se desculparam antes da hora de dormir. Além da grande conscientização sobre os pontos fortes e fracos de cada pessoa, nós também aprendemos a viver a “Platinum Rule” e efetivamente administrar as nossas diferenças.
Tirar os profissionais da zona de conforto e encorajá-los a colaborar com a equipe como um todo é um dos principais desafios para os líderes. Como o livro pode contribuir para esta tarefa?
Nos nossos treinamentos e workshops, sempre iniciamos com a compreensão de que a própria autoconsciência é essencial para o desenvolvimento. A partir do momento em que eles adquirem insights sobre os seus pontos fortes e fracos, eles aprendem que alguns são iguais a eles e outros são muito diferentes. Rapidamente, os colegas querem descobrir como são os seus companheiros de equipe; quem é mais parecido comigo e quem é diferente e em quais aspectos? Felizmente, há uma forma simples de se beneficiar dessas informações utilizando o Relatório de Desempenho da Equipe do DNA de Comportamento. Ele fornece uma visão ampla e clara da equipe e destaca como as diferenças individuais do DNA do Comportamento impactam a dinâmica nas equipes de uma forma muito real e poderosa.
Os companheiros de equipe podem visualizar como eles são diferentes e utilizar essa informação para ter expectativas realistas sobre cada um. Cada pessoa pode compreender e valorizar os diferentes talentos de todos da equipe. Fica evidente para o líder que cada pessoa é única e que precisa ser incentivada, administrada e ter um diálogo de forma diferente.
O processo de descoberta e o consequente fluxo de aprendizado são tão lógicos e transparentes que facilitam a criação de um ambiente que liberta as pessoas da vulnerabilidade, o que proporciona um diálogo aberto sobre os seus pontos fortes e fracos. A autoconsciência e a consciência do outro aumenta a objetividade que simplifica a vulnerabilidade e constrói a confiança entre a equipe. Há uma seção inteira no livro dedicado a este processo da dinâmica em equipe, mas as duas primeiras seções moldam a estrutura necessária para aplicar este conhecimento.