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Ensinamentos da literatura para a carreira executiva

Tem que ter luz própria, senão… a audiência some

Um bate-papo com Afonso Borges

Se buscamos um debate de alto nível, não poderia haver especialista melhor. Afinal, são mais de 7 mil edições reunindo 2 milhões de pessoas em quase 35 anos à frente do projeto Sempre Um Papo.

Conversamos com o jornalista, escritor, crítico e gestor cultural Afonso Borges, que também é idealizador do Fliaraxá (Festival Literário de Araxá), tem quatro livros publicados e há 15 anos apresenta a coluna diária Mondolivro, atualmente na Rádio BandNews BH.

Na pauta, a paixão pela leitura, um paralelo sobre a produção literária pós ditadura e a contemporânea, uma análise contundente sobre a situação da crítica cultural e sua experiência nos eventos realizados em tempos de pandemia.

Homem de meia idade com braços cruzados

Afonso Borges – Jornalista, escritor, crítico e gestor cultural.

O contato com a literatura veio cedo, dentro de casa. “Vim de família classe média baixa. Minha mãe, hoje com 88 anos, é uma poeta e eu iniciei meu percurso literário pela poesia”, conta Borges. Apesar dessa incursão na literatura, a paixão pelo jornalismo foi arrebatadora e guiou seus primeiros passos profissionais.

“Mas a base de tudo é sempre a mesma: a leitura. Eu sempre li tudo o que me passou à frente. Lia no ônibus, andando, de dia, de noite. Acho que nunca fui de um lugar para outro sem um livro na mochila”.

A carreira no jornalismo acabou por levá-lo ao mundo da produção dos eventos e dos festivais literários. Em atividade desde 1986, o Sempre Um Papo acompanhou um amplo período da produção artística e intelectual do país. Esse recorte temporal é marcado por gerações distintas, tanto de autores como dos leitores.

“No início, década de 1980, fim da ditadura, a tendência era o debate. Convidava várias pessoas para a mesa, as falas acaloradas e poderosas. Com o tempo, nos anos 1990, a tendência foi o individual, com depoimentos de vida, livros sobre a história contemporânea, venceu a não-ficção”.

A virada do século representou um período efervescente da ficção nacional, mas que, segundo Borges, ainda não foi devidamente apreciada. “A ficção brasileira vive um paradoxo: nunca se escreveu tanto e, ao mesmo tempo, se leu tão pouco os brasileiros. As tiragens são mínimas e a qualidade subiu a níveis impressionantes. É hora do leitor brasileiro redescobrir seus ficcionistas.”

A provocação não é exclusiva aos leitores.

Para Borges, a crítica acabou e foi substituída por youtubers e produtores de conteúdo que fomentam a discussão sobre livros – que ele defende ser um trabalho importante, mas sem deixar de lamentar o ostracismo dos críticos tradicionais.

“A crítica, mesmo, hoje se dá só entre os próprios autores. Um lê o livro do outro, comenta, discute, faz observações. A universidade, celeiro da crítica, falhou – deixou a crítica morrer, infelizmente. Além disso, os jornais pararam de publicá-las, também, o que foi a pá de cal”.

Empreendedorismo literário

E se o cenário é de ausência do debate crítico, amplia-se ainda mais a importância de espaços como o Sempre Um Papo. Mesmo com os desafios impostos pela pandemia, o projeto seguiu em atividade em um modelo virtual durante todo o ano de 2020.

Outra iniciativa que passou por transformações para sobreviver a 2020 foi o Fliaraxá, que chegou à sua nona edição com transmissões virtuais realizadas diretamente do Grande Hotel de Araxá com grandes nomes da produção literária contemporânea.

Sobre as diferenças de produzir um festival exclusivamente digital, Borges é enfático: “Você imagina o que é fazer um festival literário, como o Fliaraxá, 24 horas no ar, durante 5 dias, em streaming? É enlouquecedor! E eu fiz – eu, não, NÓS fizemos. Afora isso, o básico é a empatia. Tem que ter empatia, conhecimento do assunto, leveza. É um ambiente inodoro. Tem que ter luz própria, senão… a audiência some”.

Mesmo com um histórico de debates ao lado de autores como Saramago, Vargas Llosa, Toni Morrison e Paulo Coelho, para Afonso Borges as memórias mais fortes são as de redescobrir o interior do país e o brasileiro.

“O que me alimenta é o olhar de agradecimento do público, ao final do evento. Isso não tem preço. É quando a cultura se mistura à educação e passa a ser fermento – a semente que cresce e se transforma em formação do ser humano. Aí, sim, vale a pena. E isso acontece sempre, em todos os eventos, sem exceção. É a força do olho-no-olho, carisma e transmissão de conhecimento. E assim sempre será, sempre.”

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