O poder e a responsabilidade da influência social nas lideranças
Vivemos uma era de informações abundantes. Elas vêm de todo canto, nos mais diversos formatos. Se espalham com velocidade por meio de imagens, vídeos, textos, áudios, memes… No meio desse oceano, é desafiador saber o que vale ou não saber, o que soma, o que pode ser útil ao trabalho, à vida.
Como saber filtrar não é tarefa fácil, recorremos aos famigerados influenciadores – nada de errado em pedir apoio a quem entende do assunto, não é? Pelo contrário, confiar em quem tem credibilidade, estuda, se dedica, sabe compartilhar é um divisor de águas para o nosso aprendizado.
Foi navegando pelas águas caudalosas da web que ouvi de um pesquisador e influenciador sobre a “crescente influência social nas lideranças empresariais”, o que despertou minha curiosidade. A abordagem corporativa do termo “influenciador”, como explicou, diz sobre a capacidade de um líder motivar, persuadir e engajar pessoas a cumprirem uma meta e a tomarem decisões. Ou seja, quase um “super poder”.
E não seria, de fato, a influência um dos mais significativos poderes do nosso tempo? Sim, influencia é poder. Mas, antes tudo, é responsabilidade. É consciência, é ética. A influência, quando exercida por um líder, tem a capacidade de mudar os rumos da vida de muita gente, de uma empresa inteira, para ficar na analogia corporativa. Exercê-la de forma consciente exige um profundo autoconhecimento. É preciso estar alinhado com os próprios valores e intenções para garantir que as ações e palavras sejam coerentes, que comuniquem de maneira responsável, evitando ambiguidades ou mensagens que possam ser interpretadas como manipulação.
A confiança que move equipes
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Adriana Prates é CEO da Dasein EMA Partners Brazil.
Quando penso no poder que é influenciar, me vem à mente algo extremamente valioso: a confiança – e como é raro confiar nos dias de hoje. Estabelecer uma relação segura entre pessoas, com uma empresa, com uma marca, vai além de coerência, de ética, tem a ver com empatia, com conexão, com emoção. É a confiança, ao meu ver, que move equipes. Nesse aspecto, somam-se a transparência, a intenção genuína de beneficiar todas as partes, e não atender a agendas ocultas ou interesses pessoais.
Confiança tem a ver também com o equilíbrio da presença – estou aqui, mas não centralizo, não crio dependência. Pelo contrário, inspiro autonomia e o desenvolvimento individual. Nesse processo, respeitar e valorizar a diversidade é essencial, pois a riqueza de perspectivas amplia o alcance das decisões e fortalece o espírito coletivo.
Humildade x arrogância
Tão importante quanto a confiança nesse campo da influência é a humildade – mesmo que essa não seja uma característica que nos vem à cabeça quando pensamos em liderança. Isso porque são poucos que conseguem equilibrar autoridade e humanidade, fazer uma separação entre poder e arrogância e esclarecer que ser humilde não é ser fraco. Esse seja, talvez, um dos maiores desafios de quem exerce o cargo de líder.
Há tempos compartilho com clientes uma reflexão conectada a esse desafio: “Um líder é capaz de demonstrar presença sem ostentação e humildade sem submissão”. Acredito que se fazer presente, sem arrogância, começa pelo entendimento de que liderança não é sobre dominar, mas sobre inspirar. Um líder confiante é aquele que conhece suas próprias forças e limitações, e não precisa provar seu valor a todo momento. Confiança vem de dentro, se traduz em uma postura firme, mas respeitosa, que naturalmente gera admiração sem imposição.
A humildade, muitas vezes mal interpretada como fraqueza, é na verdade um dos maiores sinais de força. Quando um líder reconhece que não sabe tudo, pede ajuda, dá crédito à equipe, ele não perde autoridade – muito pelo contrário, fortalece os laços de confiança e cria um ambiente onde os outros também se sentem à vontade para crescer. Essa postura abre espaço para o respeito, que não é imposto pelo cargo, mas conquistado pela atitude.
É importante lembrar que presença e confiança não estão em conflito com humildade; na verdade, elas se complementam. A verdadeira liderança brilha quando há uma intenção autêntica de servir e inspirar, em vez de controlar ou impressionar. Autenticidade é isso, ser quem você é, sem exageros ou máscaras, mas com a consciência plena do impacto que você tem nos outros.
É preciso ir além das próprias verdades
Acreditar demais nas próprias convicções pode ser traiçoeiro: quando nos sentimos “superiores” olhamos para certos argumentos com menos interesse e podemos afastar soluções que seriam proveitosas. Quando um líder se coloca em um pedestal, ainda que inconscientemente, ele cria barreiras invisíveis que isolam ideias, pessoas e possibilidades. Isso acontece porque a sensação de estar “certo” o tempo todo limita a curiosidade – e a curiosidade é o que nos mantém conectados à diversidade de pensamentos e soluções.
A partir desse contexto, relembro o papel da humidade – ela funciona como um antídoto ao mostrar que ninguém, por mais experiente ou brilhante, tem todas as respostas. Mas cultivá-la exige um exercício contínuo do líder, quase como um músculo que precisa ser fortalecido diariamente. E é aqui que a escuta ativa entra como uma prática essencial. Ouvir genuinamente – não para responder, mas para entender – é um sinal de respeito e interesse real pelas pessoas e pelas ideias que elas trazem.
A combinação entre humildade e escuta ativa cria uma dinâmica poderosa. Quando o líder não assume automaticamente que sua visão é a mais acertada, ele dá espaço para outras perspectivas emergirem. Isso não significa abandonar suas convicções, mas, sim, estar disposto a questioná-las e adaptá-las quando necessário. Esse movimento não diminui sua autoridade, pelo contrário, aumenta sua credibilidade ao demonstrar maturidade e abertura. Liderar, afinal, não é sobre ter razão o tempo todo, mas sobre construir soluções coletivas que sejam mais ricas, inclusivas e eficazes.
O papel da vaidade
Um tema espinhoso, mas absolutamente necessário, é a vaidade. Sim, grande parte das pessoas é vaidosa, assim como eu, como você. A vaidade, no fundo, é um reflexo do ego, que busca reconhecimento e validação. Isso, por si só, não é negativo – todos nós precisamos nos sentir valorizados. O problema surge quando a vaidade ultrapassa os limites e passa a guiar decisões, priorizando interesses pessoais em detrimento do coletivo.
Um exemplo são as comparações e disputas. É importante ter cuidado com o fato de gostar ou não de alguém e como esse relacionamento interfere nas ideias que a pessoa compartilha. Cabe aqui mais um exercício: valorize a contribuição, acima das pessoas que as propõem. O mérito não está em quem criou a solução, mas como ela beneficia o time e os objetivos comuns.
Atitudes que inspiram
Por último, mas não menos importante: liderar de forma influente e responsável significa ser exemplo. Mais do que palavras, são as atitudes que inspiram e modelam comportamentos. E, quando erros acontecem, assumir a responsabilidade e corrigir o curso sem apontar culpados fortalece ainda mais a confiança no líder. No fundo, é sobre usar o poder da influência para construir pontes, abrir caminhos e transformar realidades com ética e empatia.
A liderança que permanece, que deixa um legado, é aquela exercida de forma autêntica, inspiradora, que arrasta sem esforço, muito diferente de querer controlar ou impressionar. O segredo é partir de quem você é, sem exageros ou máscaras, mas com a consciência plena do impacto que você tem nos outros – e a responsabilidade que isso acarreta.
*Adriana Prates é CEO da Dasein EMA Partners Brazil e conselheira de Diversidade da AESC.