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Radar executive search: alta performance sem burnout

Ser eficaz não significa viver no limite

Entenda como o bem-estar tem sido a chave para alcançar resultados excepcionais

 

Multitarefas, hiperconectados, acelerados. Ainda assim, insatisfeitos com a própria produtividade. Nesta caminhada rumo à performance perfeita, um número cada vez maior fica pelo caminho – só em 2024 quase meio milhão de pessoas foram afastadas do trabalho devido a transtornos mentais. Esse é o maior número nos últimos 10 anos e representa um aumento de 68% em relação a 2023, segundo o Ministério da Previdência Social. Mas, afinal, é possível chegar lá e alcançar a tão sonhada alta performance, sem se perder?

Para Adriana Prates, CEO da Dasein EMA Partners Brasil, o primeiro passo é esclarecer o que é alta performance. “Ela não deveria ser vista como sinônimo de exaustão, mas sim de eficiência, de equilíbrio entre entrega de resultados e bem-estar. O problema não está na busca por alto desempenho, mas na maneira como ele tem sido exigido, muitas vezes, à custa da saúde mental.”

O crescente número de afastamentos por transtornos mentais, segundo ela, reflete um modelo de trabalho que ignora limites, sufoca a criatividade e desconsidera o aspecto humano da produtividade. “A solução não é abandonar a ideia de alta performance. Pelo contrário, o desafio das lideranças hoje é redefini-la como um desempenho sustentável, que respeita os ciclos de energia, incentiva pausas e valoriza o engajamento dos profissionais. Acredito que o futuro do trabalho exige um novo pacto: alta performance sim, mas sem abrir mão da saúde e da humanidade.”

Marilena Cancelier é Chief Revenue Officer (CRO) do Grupo Toccato.

Marilena Cancelier, Chief Revenue Officer (CRO) do Grupo Toccato, enxerga o aumento no número de afastamentos como um alerta e, também, como um desafio que envolve o hoje e o futuro: como fazer do ambiente de trabalho um lugar saudável e, ao mesmo tempo, dentro das expectativas de entrega de resultados? “Não há mais espaço para a alta performance sem jogar luz às crescentes questões relacionadas à saúde mental. Embora o termo tenha sido associado a um padrão de produtividade extrema, o foco precisa agora incluir o equilíbrio – simplesmente ignorar o impacto psicológico de trabalhar em alta pressão não resolve o problema. É preciso agir preventivamente criando ambientes de trabalho sustentáveis. Isso significa entender que o processo de alcançar altos resultados precisa ser compatível com a preservação da saúde psicológica e não ser visto como um processo excludente e independente do contexto amplo do ser humano.”

Cancelier lembra que, em 2010, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han já abordava o assunto no livro “A Sociedade do Cansaço” – obra que traz reflexões muito atuais sobre a pressão da sociedade contemporânea, caracterizada pelo excesso de produtividade, performance e autocobrança, que leva ao esgotamento físico e mental dos indivíduos.

Bem-estar exige uma mudança cultural

Nos últimos anos, a saúde mental ganhou destaque dentro das empresas, especialmente no pós-pandemia, quando as organizações implementaram programas voltados ao bem-estar dos funcionários. No entanto, como destaca Daniel Rezende, diretor da Dasein EMA Partners Brasil, a maioria dessas iniciativas foi temporária. “O desafio, agora, é encontrar um modelo que permita manter a alta performance sem comprometer a saúde dos colaboradores e isso exige mais do que ações pontuais; requer uma mudança estrutural e cultural dentro das organizações. Para que esse equilíbrio seja possível, é fundamental que o bem-estar deixe de ser tratado como um tema secundário e passe a ser parte da identidade corporativa.”

O maior erro das empresas, na visão de Rezende, é tratar a saúde mental e a alta performance como elementos opostos. “Na realidade, são duas faces da mesma moeda. Quando o ambiente de trabalho favorece o equilíbrio entre produtividade e bem-estar, os resultados aparecem de forma consistente. Mas isso só acontece quando há um compromisso duradouro e não apenas ações momentâneas para atender a demandas específicas.”

Ir além de benefícios isolados e discursos motivacionais é pré-requisito. “A transformação começa na forma como o trabalho é organizado e na postura das lideranças. Pressionar por resultados sem oferecer suporte adequado só gera exaustão e queda na produtividade. Por isso, preparar os gestores para identificar sinais de sobrecarga, estabelecer prioridades claras e incentivar um ambiente colaborativo é essencial para garantir desempenho sustentável.”

Adriana Prates é CEO da Dasein EMA Partners Brasil.

“Na Dasein, sempre avaliamos a relação entre o desafio e a capacidade da pessoa para lidar com aquele nível de trabalho e complexidade. Assim como a sobrecarga traz ansiedade, preocupação, perplexidade e baixa autoestima, a subutilização das pessoas provoca frustração, tédio, ansiedade e baixa autoestima. Fazer essa avaliação é essencial para evitar danos de saúde mental e problemas ligados a sobrecarregada ou subutilização dos profissionais.”

A hiperconexão e a sobrecarga mental

Um dos grandes vilões da alta produtividade é a concentração: quase 60% dos trabalhadores não consegue focar mais que 30 minutos em uma tarefa, segundo pesquisa da plataforma Insightful. As notificações e trocas de mensagens do celular e nos aplicativos corporativos, como o Teams e Slack, são os principais motivos de distração.

Essa pesquisa remete à cultura do “sempre ligado”, que precisa ser repensada, lembra Daniel Rezende. “A alta performance só se sustenta quando há um esforço consciente para evitar a sobrecarga mental. Criar períodos sem reuniões, incentivar pausas e estabelecer diretrizes para a desconexão são medidas que ajudam a manter a produtividade sem desgastar os profissionais. Mais do que isso, a empresa deve medir constantemente o impacto dessas iniciativas por meio de pesquisas internas, acompanhamento de indicadores de engajamento e feedbacks.”

Outro aspecto fundamental é o exemplo dado pela própria liderança. “Quando gestores enviam mensagens a qualquer momento e cobram respostas imediatas, reforçam uma cultura de hiperconectividade que prejudica o foco. Por isso, é importante incentivar pausas nas interações digitais e valorizar a qualidade do trabalho entregue, e não apenas a velocidade de resposta. O objetivo não é diminuir a comunicação, mas sim equilibrá-la para que ela seja eficiente sem se tornar uma fonte de distração constante.”

Marilena Cancelier lembra que é sempre importante olhar para fatores do comportamento atual, além dos corporativos, quando o assunto é saúde mental. A hiperconexão, dentro e fora do escritório, é um ótimo exemplo. “Além de ser um fator que causa cansaço mental, ela tem nos afastado humanamente e gerado um excesso de conteúdo, de interações, de canais ao mesmo tempo que nos afasta da essência humana de socialização, trazendo à tona a solidão, depressão e ansiedade.”

Para ela, a falta de concentração desencadeada por notificações constantes e interrupções digitais é um desafio crescente. “E não há retrocesso com as tecnologias. Mas há formas de estabelecer boas práticas e organizar as semanas. As lideranças podem adotar uma abordagem proativa para combater esse problema, como por exemplo definir normas claras sobre como gerenciar notificações, como estipular horários para responder a mensagens ou e-mails e criar ‘blocos de foco’ onde todos se concentram em uma tarefa sem interrupções.”

Outra estratégia é promover a cultura do “não perturbe” quando necessário, permitindo que os colaboradores trabalhem sem ser constantemente interrompidos. “E como contraponto à hiperconexão tecnológica, promover também momentos de conexão humana, presencial, espaços de conversa, diálogos. Apesar de estarmos tão conectados, a OMS já reconhece que a solidão é uma epidemia mundial. Nunca fomos tão solitários e tão conectados. E isso também é a causa dos transtornos de saúde mental.”

Para cuidar dos outros é preciso estar bem

Espelhos das empresas, as lideranças refletem seus valores, sua cultura, suas possibilidades, são exemplos – e nada mais poderoso que a mensagem do exemplo. Mas quando olhamos para as principais causas dos afastamentos ligados à saúde mental, encontramos problemas ligados ao modelo de gestão, como pressão por resultados, longas jornadas de trabalho, falta de reconhecimento, ambiente tóxico e comunicação. “Vejam que boa parte das causas pode ter intervenção positiva ou negativa dos gestores”, salienta Cancelier.

Liderar de forma eficaz em tempos de pressão exige autocuidado. “Vale a regra da despressurização: coloque a máscara em você primeiro. O exemplo de uma liderança que cuida de sua saúde mental tem um impacto profundo em toda a organização, criando uma cultura que valoriza o equilíbrio e o bem-estar. Quando as lideranças mostram vulnerabilidade e cuidam de si mesmas, elas comunicam aos seus times que o bem-estar é tão importante quanto a performance, encorajando os colaboradores a fazerem o mesmo. E aqui as boas práticas passam por gestão do tempo, a delegação eficiente, a prática de mindfulness ou outras formas de redução de estresse. Além disso, é fundamental que líderes busquem apoio quando necessário, seja por meio de terapia ou grupos de apoio.”

O bom e velho feedback

Certas práticas atravessam o tempo e se renovam de acordo com as demandas de cada época. Esse é o caso do feedback, como aponta Adriana Prates. Muitos estudos estão mostrando que ele é a porta de entrada para a construção de uma relação saudável que propicia a saúde mental e a alta performance. Segundo ela, o feedback é uma das ferramentas mais poderosas para alinhar expectativas, fortalecer conexões e impulsionar performances. “No entanto, quando mal conduzido, pode gerar distanciamento e insegurança, minando exatamente os resultados que deveria fortalecer.”

“Sempre digo que, quando um feedback afasta as pessoas, algum cuidado deixou de ser tomado. Isso reforça a necessidade de que o feedback seja mais do que uma prática de correção – ele deve ser um instrumento de desenvolvimento e confiança. Para isso, as lideranças precisam aprimorar a forma como comunicam, tanto com o CEO, com o board quanto os gerentes com seus times. Nas relações de alta liderança, é preciso um feedback estratégico e de impacto nos negócios, precisam ser embasados em métricas, tendências, devem ir além do problema e trazer a solução.”

“Já na relação entre gerentes e times, o feedback funciona como alicerce de segurança psicológica. Ele precisa motivar ao invés de desestimular. Se as pessoas têm medo do feedback, elas deixam de se expressar, de inovar e de aprender. O segredo está em criar um espaço onde o erro seja tratado como aprendizado. Outro ponto essencial é o tom de fala: mais do que o conteúdo, a forma como o feedback é dado define seu impacto. O tom deve ser claro, respeitoso e construtivo.”

Colaboração, respeito e simplicidade

Transparência, respeito, decisões compartilhadas e simplicidade: esses são fatores que contribuem para o equilíbrio entre performance e saúde mental na WEG, como destaca o diretor de RH, Juliano Saldanha Vargas. “Promover um ambiente de trabalho respeitoso, equilibrado

Juliano Saldanha Vargas é diretor de RH da WEG.

e saudável é essencial para a produtividade, inovação e desenvolvimento de talentos. Esses valores são refletidos em nossas práticas diárias, contribuindo para melhorar o desempenho individual e coletivo, para a satisfação e retenção dos colaboradores, fortalecendo a cultura organizacional e garantindo os resultados não só a curto, mas também a longo prazo.”

A grande maioria dos gestores são “prata da casa”, colaboradores que se desenvolveram internamente e se tornaram líderes devido a sua evolução e resultados. “Desde cedo são expostos à uma cultura de gestão participativa, colaborativa, o que cria um senso de parceria, de comprometimento e dá segurança na tomada de decisão, reduzindo as pressões do dia a dia”, assinala Vargas.

A empresa busca o crescimento contínuo e sustentável, sem abrir mão de algo valioso: a simplicidade. “Todos tentam viver essa missão diariamente, o que deixa o dia a dia mais leve apesar das demandas complexas do nosso negócio. Incentivamos as lideranças a darem autonomia aos colaboradores na busca por melhores maneiras de alcançar os resultados. Nossa ferramenta de melhoria contínua, por exemplo, possui mais de 282 mil ideias implantadas. Isso demonstra que o colaborador está muito à vontade para sugerir melhorias no seu ambiente de trabalho, o que permite realizar suas tarefas de maneira mais produtiva e eficiente e, consequentemente, mais focada.”

“Os líderes exercem um papel fundamental na extensão das iniciativas e campanhas de conscientização, tanto com facilitadores quanto como mentores. Além disso, temos abordado os temas performance e segurança psicológica como um trabalho preventivo de saúde e bem-estar, orientando nos aspectos que podem comprometer a qualidade de vida e do trabalho e sugerindo ações. Estes movimentos, em conjunto com as práticas de reconhecimento e as possibilidades de progressão na carreira, diminuem a tensão e o estresse.”

Autonomia, flexibilidade e criatividade

O incentivo à autonomia, à flexibilização das rotinas é um caminho que tem trazido bons resultados, ressalta Daniel Rezende. “Modelos de trabalho excessivamente rígidos podem prejudicar tanto o foco quanto a motivação, já as empresas que oferecem maior autonomia, seja na gestão do tempo, no formato de trabalho ou na tomada de decisões, costumam ter funcionários mais engajados e produtivos. Isso porque, ao permitir que cada profissional encontre seu melhor ritmo, cria-se um ambiente em que a eficiência não é impulsionada pela pressão, mas sim pela capacidade real de entrega.

Todavia, o diretor destaca que a construção de um ambiente de alta performance sustentável não depende apenas das lideranças ou apenas dos colaboradores – é um esforço conjunto. “As empresas que realmente querem melhorar a produtividade e o bem-estar precisam de uma mudança de mentalidade que envolva ambos os lados, cada um assumindo sua parcela de responsabilidade para corrigir os pontos críticos que dificultam um desempenho consistente. O equilíbrio entre produtividade e bem-estar só é possível quando todos compreendem que o desempenho não é apenas uma questão de exigência, mas de estrutura, suporte e alinhamento coletivo.”

Pensando na questão do desenvolvimento coletivo, Adriana Prates também chama atenção para o “burn on”, quando as pessoas continuam entregando, mas em um estado de esgotamento progressivo. Segundo ela, é importante ter um olhar cuidadoso para esses casos. Como forma de evitar os vários problemas ligados à saúde mental, ela cita como exemplo ações que envolvem arte e criatividade, cada vez mais usadas no ambiente corporativo como meio combater o estresse, a ansiedade e estimular a concentração.

O incentivo à performance sustentável deve vir de cima

Segundo Adriana Prates, os C-levels precisam abordar o tema da alta performance sustentável com a alta cúpula corporativa. “Essa

Daniel Rezende é diretor da Dasein EMA Partners Brasil.

abordagem deve ser estratégica, utilizando uma combinação de dados, impacto financeiro e narrativas inspiradoras”. Ela aponta caminhos necessários que poderão sensibilizar CEOs, conselheiros e acionistas:

Fale a língua do negócio. Os tomadores de decisão priorizam resultados. Por isso, é fundamental conectar a saúde mental e a performance sustentável a indicadores financeiros e estratégicos, como produtividade e inovação – equipes esgotadas são menos criativas e produtivas a longo prazo. Estudos mostram que empresas com bem-estar elevado têm até 23% mais lucratividade (Gallup). Outro ponto é o custo do burnout, como absenteísmo, presenteísmo e turnover, que são grandes vilões financeiros. Temos ainda o employer branding e retenção, já que os talentos priorizam empresas que oferecem equilíbrio entre desempenho e qualidade de vida.

Transforme alta performance em vantagem competitiva. A alta cúpula precisa entender que sustentabilidade da performance é um diferencial estratégico. Empresas inovadoras já adotam modelos que equilibram exigência e regeneração – e isso fortalece a reputação corporativa, melhora a experiência do cliente e aumenta a fidelização de talentos.

Apresentar soluções práticas e escaláveis. É essencial que os C-levels tragam ações concretas e viáveis, em vez de apenas problematizar o tema. Modelo de gestão por energia, não só por tempo (alternância entre períodos de foco e recuperação); liderança inspiradora e humanizada (formação para líderes criarem ambientes psicologicamente seguros); inclusão de criatividade e arte no ambiente corporativo para estimular inovação e bem-estar; e métricas de alta performance sustentável, que incluam não apenas entregas, mas também níveis de engajamento e saúde dos times.

Crie um movimento interno com defensores. Identifique aliados na organização, como outros líderes sêniores ou influenciadores internos, e construa um movimento progressivo dentro da empresa. A cultura só muda quando há adesão de diversos stakeholders.

Utilize o poder da narrativa. Histórias reais de colaboradores que tiveram sua performance elevada ao encontrarem um equilíbrio saudável são muito mais impactantes do que apenas números. CEOs e acionistas são influenciados por relatos autênticos, que mostram a transformação na prática.

NR-01 é atualizada e inclui riscos psicossociais

O Ministério do Trabalho anunciou a atualização da NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1), que trata das diretrizes sobre saúde no ambiente do trabalho, exigindo, a partir de 2025, que empresas realizem avaliações dos riscos psicossociais. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), essa medida tem como objetivo mitigar problemas como estresse, ansiedade e esgotamento profissional.

Com as atualizações, há maior fiscalização dos riscos psicossociais no processo de gestão, o que pode, inclusive, acarretar em multa para as empresas caso sejam identificadas questões como metas excessivas, jornadas extensas, ausência de suporte, assédio moral, conflitos interpessoais, entre outros. A fiscalização será realizada de forma planejada, por meio de denúncias que são encaminhadas ao Ministério.

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