Como aplicar o futuro no hoje?
Um guia executivo que ajuda você a construir seu plano de carreira, pensando nas necessidades dos próximos anos.
Pensar o futuro faz parte da história da humanidade. Das aspirações individuais, a planejamentos coletivos, é algo presente nas mais diversas culturas e regiões do globo. É o que ajuda a direcionar mercados, empresas, carreiras. E mesmo sendo tão familiar, não deixa de ser estranhamente incômodo – pensar o futuro nem sempre é confortável, sobretudo quando o desejo está distante da ação. Mas a partir do momento em que damos o primeiro passo, tudo muda.
Transferir algo do plano das ideias para a vida real pode ser mais simples do que parece: comece olhando para você. Fazer uma avaliação pessoal das suas potencialidades e lacunas, o que precisa aprender, desenvolver, repensar, são atitudes recomendadas. “Nesse processo, construir um olhar positivo de abertura para o novo é essencial, tendo em vista as muitas mudanças que são impostas à sociedade, ao mercado”, destaca a CEO da Dasein EMA Partners Brazil, Adriana Prates.
O poder da adaptabilidade
Para a head de Pessoas, ESG e Comunicação da Aura Minerals, Isabela França Dumont, assumir a postura de aprendiz, desenvolvendo a adaptabilidade, é um grande diferencial hoje e para os próximos anos. “A única certeza que temos é que as coisas estão mudando muito rápido. Não dá para ficar apegado ao que já sabemos, ao modo como as atividades são feitas. É importante se abrir para o novo para não correr o risco de ficar obsoleto.”
“Por outro lado, vejo profissionais flexíveis, dispostos a aprender, que se adaptam, que têm a humildade de reaprender o que já sabem. E são essas pessoas que estão despontando, que trazem soluções para o que vamos precisar. Essa é uma postura muito positiva, independente do objetivo de carreira de cada um, quero ser gerente, diretor, CEO… Se reinventar no próprio cargo, se adaptar, é um sinal que indica que a pessoa está aberta para novos desafios.”
Temas centrais na agenda 2025
Conhecimentos em ESG, finanças/tributos e, sobretudo, inteligência artificial são habilidades altamente requisitadas entre executivos e vão permanecer fortes na agenda em 2025. Pesquisa global do Linkedin e Microsoft, incluindo o Brasil, mostra que 41% das lideranças preveem uma reformulação completa dos processos empresariais nos próximos cinco anos, com a IA no centro.
Dumont ressalta que é importante ter uma compreensão sobre o ritmo das mudanças, sobre as novas necessidades, como a IA, que é transversal, e está presente em todas as disciplinas. “Mas, de novo, se as pessoas não estiverem sempre se renovando, se adaptando, fica mais difícil evoluir e amadurecer. Vejo muita resistência, medo de perder espaço para a inteligência artificial, mas quem está usando a seu favor vai ter um espaço muito mais fluido, vai conseguir alavancar a carreira e suas atividades.”
Para o head da Silva Freire Advogados e um dos fundadores do Instituto de Formação de Líderes (IFL), Luis Felipe Freire, os conhecimentos em inteligência artificial, ESG (com mais foco para a governança) e finanças são e ser grandes diferenciais, além da comunicação, essencial para qualquer líder.
Mas ele cita algo que vai além. “Sócrates considerava o ‘conhecimento’ uma virtude. Porém, mais do que conhecimento, devem ser buscadas virtudes éticas e morais. Conhecimento em um líder sem valores pode ser fatal para as empresas e para os negócios. Neste campo, a lealdade, sem dúvida alguma, é a virtude que eu escolheria para buscar em conjunto com o conhecimento”, destaca Freire.
Cultura da confiança
Não há como falar em futuro do trabalho sem falar de confiança – ponto crucial para uma relação saudável no ambiente profissional. Lideranças que estabelecem uma comunicação transparente, que ouvem seus liderados, que têm empatia e acolhem suas diferenças desenvolvem conexões de segurança, fundamental para alcançar bons resultados.
Para Isabela França Dumont, investir em relações de confiança passa por realizar feedbacks constantes, ter conversas abertas sobre carreira, uma agenda mais voltada para pessoas, para o desenvolvimento. “Não é fácil, muitas vezes somos engolidos pela rotina, mas precisamos fazer um esforço, é algo que vale a pena”.
“Quando as pessoas têm liberdade para trabalhar do seu jeito, são naturalmente mais produtivas, criativas e felizes”, lembra Samarone Gomes, gestor de pessoas na Nexa Resources. Para ele, relações de confiança são ligadas, também, às práticas de diversidade, equidade e inclusão. “Quando implementadas de forma abrangente, criam um ambiente de trabalho mais inclusivo e acolhedor.”
Ele, que é uma pessoa autista, relata o exemplo da neurodiversidade, tema ainda insipiente nas empresas. “A pessoa com autismo não tem um comportamento a ser corrigido e sim potencializado. São profissionais que possuem hiperfoco e habilidades únicas, conseguindo ter entregas e comprometimento acima da média, solucionar problemas pensando de forma diferente, fora da caixa. Mas para desenvolver esse olhar é necessário, antes, ter empatia, o que parte de uma cultura de diversidade consolidada.”
Modelos de trabalho
O modelo de trabalho nas empresas é outra discussão que não vai arrefecer em 2025, seja em torno do retorno definitivo ao presencial (muitas empresas de tecnologia estão abolindo o homeoffice) ou em relação à escala de trabalho. Como ignorar o tema não é uma opção entre as lideranças, Adriana Prates ressalta o poder da confiança. “Em equipes onde a confiança está estabelecida, não há a conexão de produtividade às horas trabalhadas, os líderes mensuram a produtividade por resultados e não pelo tempo de expediente. Compreender essa mudança e implementá-la entre os liderados pode ser um divisor de águas.”
Para lideranças que estão às voltas com mudanças do modelo de trabalho, a mentora de executivos indica uma avaliação criteriosa do contexto organizacional e das necessidades dos colaboradores. Segundo ela, os executivos devem considerar as demandas do mercado e o tipo de trabalho realizado, mas também é necessário ouvir os funcionários por meio de pesquisas, conversas, etc.
Outro ponto essencial é olhar para a flexibilidade – que continua sendo uma exigência central dos talentos em 2025. Pesquisas recentes mostram que a flexibilidade continuará como um fator determinante para permanecer ou não na empresa.
Prates ressalta que há uma série de formatos que a empresa e as lideranças podem adotar, como o híbrido personalizado, que combina dias presenciais e remotos, ajustando conforme o perfil das equipes; conceder mais autonomia para que os funcionários escolham horários que maximizem a produtividade; e as escalas por necessidade, que reduz a rigidez nos turnos e implementa práticas que valorizem entregas em vez de presença.
Investir em tecnologia e uma boa estrutura também é fundamental, com ferramentas que suportem a produtividade no trabalho remoto, como softwares colaborativos e plataformas de gestão de projetos. Para enriquecer ainda mais os momentos presenciais, é aconselhável olhar para a infraestrutura dos escritórios e torná-los mais atraentes, colaborativos, criando ambientes que estimulem a troca de ideias.
Ego X humildade
Grandes nomes do executive search relatam que um dos principais empecilhos à plena atuação de líderes C-level é o egocentrismo, o que prejudica sua capacidade de ouvir e se relacionar. Já a humidade para liderar é uma característica em comum entre as lideranças mais admiradas.
Para Adriana Prates, é importante esclarecer que o ego faz parte da essência humana, não é possível abandoná-lo. O problema mora no excesso. “Trocar o egocentrismo pela humildade no contexto da liderança C-level é um desafio complexo, mas absolutamente essencial. A tendência é que os ambientes corporativos sejam cada vez mais colaborativos e centrados em pessoas, por isso é necessário que as lideranças reflitam sobre o impacto negativo do egocentrismo, reconhecendo, primeiramente, seus prejuízos. O ego, em excesso, pode criar barreiras na comunicação, desengajar equipes e limitar a capacidade de inovar.”
Certas atitudes ajudam a combater comportamentos egoicos, como solicitar feedbacks, incentivar avaliações sinceras de colegas, subordinados e mentores. “Valorizar ideias diversas, validando opiniões de diferentes níveis hierárquicos, reforça ainda a cultura da inclusão. Entender como os outros percebem seu comportamento é um ponto de partida poderoso.”
Praticar a escuta ativa é outro exercício que precisa fazer parte do dia a dia. “Por mais que esteja em alta, são poucos que ouvem para entender, e não para responder. Concentre-se em ouvir, sem formular respostas mentais enquanto os outros falam e demonstre interesse genuíno pelas perspectivas alheias.”
Admitir limitações e erros, reconhecendo que não tem todas as respostas, e pedir ajuda quando necessário, é um jeito de inspirar a humildade, confiança e autenticidade, além de fortalecer o vínculo com as equipes. Essas atitudes fazem parte de um ambiente de colaboração, com diálogos abertos e opiniões livres, mesmo que discordantes.
A humildade cria conexões mais profundas e significativas, fortalece relacionamentos, incentiva a inovação, já que as pessoas se sentem seguras para compartilhar ideias sem serem criticadas.
Resiliência
Saber lidar melhor com os desafios, assumir uma posição de resiliência em meio a adversidades é outra habilidade essencial para navegar no mar de incertezas. É nos esportes que o executivo e advogado Luis Felipe Freire se inspira para ser mais resiliente. “Sem dúvida alguma, é uma preparação para a competição no mundo dos negócios”, destaca.
“É no esporte que tiro a disciplina, a força e a motivação para sair da zona de conforto e fazer mais e melhor. Por meio dele podemos ter mais equilíbrio e força emocional, nos ensina a competir, a ganhar, a perder, a recuperar e a recomeçar. Prova disso é a quantidade de líderes e gestores que fazem esportes de alto desempenho, como Alexandre Birman (triathlon), Marcelo Zimet (triathlon) e Guilherme Benchimol (maratonista).”
Vida executiva x IA
Executivos que têm conhecimentos mais avançados em inteligência artificial tomam decisões estratégicas mais informadas, conseguem interpretar dados complexos e avaliar tendências de forma mais clara. Esses diferenciais promovem uma vantagem competitiva não só do profissional, mas também do negócio.
“Conhecer o potencial da IA permite identificar áreas onde a tecnologia pode otimizar operações, reduzir custos e melhorar a experiência do cliente. Executivos capacitados nessa área estarão melhor posicionados para guiar suas organizações em mercados cada vez mais digitalizados, além de compreenderem mais sobre ética e regulamentações em IA – essencial para evitar uso indevido da tecnologia”, afirma Adriana Prates.
E por onde começar? Existem diversos conteúdos que trazem uma compreensão básica da IA, de suas ferramentas, como o ChatGPT , a cursos introdutórios e leituras. Obras como “Artificial Intelligence: A Guide to Intelligent Systems” podem fornecer uma base mais sólida. Estudo de casos reais, de empresas do seu setor, além da participação em eventos que abordem o tema são recomendados. Para aprofundar o conhecimento, cursos executivos voltados à transformação digital e liderança com foco em tecnologia ou buscar mentores especializados em IA pode acelerar o aprendizado e adaptar o conhecimento às necessidades específicas da empresa.
Vida executiva x ESG e finanças
Além da inteligência artificial, conhecimentos em ESG e finanças/tributos são habilidades muito requisitadas entre executivos e continuam nas tendências para 2025. A crescente pressão social e dos investidores por avanços na sustentabilidade, responsabilidade social e governança indica que os investimentos nessas áreas alcancem US$ 53 trilhões até o final de 2025, representando mais de um terço dos ativos globais sob gestão dos fundos, como mostra levantamento da Bloomberg Intelligence. Essa tendência indica, ainda, que a demanda por profissionais com expertise em ESG permaneça alta, com foco em estratégias que alinhem rentabilidade e sustentabilidade.
Já no que diz respeito aos conhecimentos em finanças e tributos, a complexidade do ambiente regulatório e fiscal brasileiro exige que as empresas mantenham executivos atualizados nesses temas. Com a evolução das políticas econômicas e fiscais, espera-se que a necessidade de especialistas até aumente, visando otimizar a eficiência financeira e assegurar conformidade legal.
GUIA COMPORTAMENTAL EXECUTIVO
Ego como aliado, não como inimigo. Trabalhar o ego não significa eliminá-lo, mas usá-lo como uma ferramenta para impulsionar a confiança e o impacto positivo.
Confiança sem excesso de defesa. Desenvolva um equilíbrio entre a autoconfiança e a abertura para ouvir os outros, mantendo a segurança interna diante de críticas.
Seja fiel aos seus valores. Não comprometa seus princípios ou estilo de liderança para se encaixar em expectativas externas.
Valorize suas habilidades. Reconheça e celebre suas realizações, sem necessidade de subestimar ou minimizar seus feitos.
Comunique-se com Intencionalidade. Encontre seu tom, com autenticidade, segurança e acolhimento, sempre priorizando a clareza da mensagem. Palavras como “nós” podem promover colaboração sem diminuir sua autoridade.
Controle a reatividade. Ao enfrentar críticas ou objeções, responda com calma e assertividade, evitando o tom defensivo que pode ser interpretado negativamente.
Equilibre o falar e ouvir. Demonstrar interesse genuíno pelas ideias dos outros fortalece sua posição como líder empático e colaborativo.
Valide as contribuições. Reconheça ideias da equipe, sem ceder espaço para que sua liderança seja ofuscada.
Seja humilde, mas não subserviente. Aceite que há sempre algo a aprender, mas mantenha-se firme em suas decisões quando acreditar que está certo.
Peça feedback, mas não se apegue às críticas. Aceite contribuições de pessoas confiáveis, mas evite se prender a críticas destrutivas que não agregam valor.
Construa redes de apoio. Busque mentores, conectar-se com outras lideranças oferece um espaço para compartilhar desafios e estratégias.
Aceite o desconforto das mudanças. Alguns julgamentos são inevitáveis, mas a persistência pode transformar percepções a longo prazo.
Aprendizagem contínua. O desenvolvimento deve ser uma constante, seja por meio de cursos, leituras e troca de conhecimentos.
Networking e benchmarking. Sempre participe de eventos e comunidades específicas com o objetivo de trocar experiências com líderes de outras indústrias.
GUIA PARA A MÉDIA GERÊNCIA
Habilidades operacionais e de liderança. Consolidar habilidades operacionais e de liderança de equipes para garantir a execução eficiente e alinhamento estratégico.
Gestão de pessoas. Treinamentos em comunicação, gestão de conflitos e meios de delegar responsabilidades.
Inteligência emocional. Cuidar da saúde mental e desenvolver habilidades emocionais para lidar com equipes diversas.
Planejamento operacional. Invista em capacitação em gerenciamento de projetos e metodologias ágeis (Scrum, Kanban) e ferramentas de análise de desempenho e indicadores-chave (KPIs).
Tomada de decisão baseada em dados. Desenvolva a análise de dados e interpretação de relatórios financeiros básicos, além da capacitação em softwares como Excel avançado e Power BI.
Adaptabilidade e resiliência. Workshops sobre gestão de mudanças e resiliência diante de incertezas.
Troca de conhecimentos. Participe de programas de mentoria com gerentes sêniores e faça parte de rodízios em diferentes áreas para desenvolver visão sistêmica.
GUIA PARA GERENTE SÊNIOR
Expanda a visão estratégica. Conhecimento macro é importante para influenciar decisões organizacionais, mantendo excelência na gestão de times e projetos.
Estratégia e liderança situacional. Treinamento em pensamento estratégico e resolução de problemas complexos e liderança adaptativa para diferentes perfis e situações organizacionais.
Gestão financeira e orçamentária. Conhecimento aprofundado em planejamento financeiro e controle de custos. Análise de viabilidade de projetos e ROI (Retorno sobre Investimento).
Influência e negociação. Técnicas de negociação avançada e gestão de stakeholders. Desenvolvimento de habilidades políticas internas para influenciar decisões.
Inovação e sustentabilidade. Treinamentos em metodologias de inovação (Design Thinking, Lean Startup). Estratégias ESG para integrar sustentabilidade às operações.
Mentorias. Participação em comitês estratégicos para expor ideias e obter feedback e iniciação em programas de coaching para transição ao C-level.
GUIA PARA C-LEVEL
Governança. Formação em boas práticas de governança, ética e compliance, além de entendimento de regulação e relações com conselhos administrativos.
Liderança transformacional. Treinamentos sobre como inspirar, engajar e promover cultura organizacional. Desenvolvimento de competências em storytelling e comunicação de alto impacto.
Inteligência artificial e tecnologias de ponta. Cursos avançados sobre o impacto da IA nos negócios e atualizações sobre tecnologias emergentes como blockchain, IoT e computação quântica.
Gestão de crises e resiliência. Simulações de cenários de crise e estratégias de mitigação. Planejamento de continuidade dos negócios.
Sustentabilidade e impacto social. Estratégias de ESG alinhadas a resultados financeiros e reputacionais. Participação em fóruns globais sobre inovação e sustentabilidade.
Atuar em conselhos. Fazer parte de conselhos consultivos de outras empresas para ampliar networking e perspectiva.
Educação executiva. Investir em programas de educação executiva de instituições renomadas como Fundação Dom Cabral, Insead, Harvard, MIT, entre outras.