Prestes a completar 35 anos de estrada, o Grupo Galpão não quer sossego. O gosto pelo desafio, o desejo de criar e a vontade de confrontar as próprias deficiências são sentimentos que não arrefeceram ao longo dos anos. Pelo contrário, estão a cada dia mais vivos nos 12 atores da trupe. Considerada uma das companhias teatrais mais brilhantes do Brasil, já conceberam 23 espetáculos e foram assistidos por mais de 1,7 milhão de pessoas no mundo. Para celebrar esse grande talento e conhecer um pouco mais das experiências, habilidades e referências fundamentais para o grupo, conversamos com um dos seus fundadores, o ator Eduardo Moreira. Acompanhe e inspire-se!
Em 35 anos de carreira, o Galpão concebeu 23 espetáculos, se apresentou em quase 20 países e ganhou mais de 100 premiações. Em seu ponto de vista, quais foram as habilidades e atitudes que levaram a companhia a ser uma das mais importantes do Brasil e do mundo?
Antes de mais nada, o desejo de viver de teatro e se profissionalizar. Na década de 80 o teatro em Minas se caracterizava por uma atividade semiprofissional, mas ligada a um formato amador, em que as pessoas faziam teatro e tiravam a renda para viver de outras atividades. Nós, desde o início, tínhamos como meta, viver exclusivamente do teatro.
Outro aspecto importante foi o trabalho com os dois diretores do “Teatro Livre de Munique” com quem trabalhamos e que nos instrumentalizaram com um trabalho técnico que foi uma verdadeira escola de formação. A partir do trabalho de mais de seis meses com os alemães tínhamos uma linguagem teatral comum, o que foi muito importante como ponto de partida.
O Galpão trabalha com o mesmo elenco há mais de 20 anos. A equipe, formada por 12 atores, é um exemplo de talento, inventividade e renovação. Como manter esse vigor e uma equipe funcionando por tanto tempo?
Treinamento, dedicação, humildade, perseverança. Acima de tudo, muita perseverança para continuar buscando desafios e novos riscos. E também saber que no teatro nada está conquistado, mas precisa ser construído no aqui e no agora do ato teatral.
O teatro de rua e a pesquisa da linguagem popular são bases do Grupo Galpão e ao longo dos anos, vocês também se abriram à experimentação, à novos desafios. Como se dá o processo de criação dos espetáculos?
Sempre passamos por uma profunda discussão coletiva sobre que tipo de espetáculo devemos fazer. O caminho é construído de forma coletiva. E as perguntas são sempre as mais variadas o possível – Fazer um espetáculo de rua ou de palco?, Com uma direção interna ou externa?, Ou, que tipo de deficiência ou novo desafio devemos enfrentar para um próximo trabalho? O importante é não perder a perspectiva de que um novo trabalho deve ser uma forma de enveredar por uma nova pesquisa e uma forma de construir linguagens.
O Galpão tem uma relação bem afetiva com seu público, são pessoas que não acompanham um ou outro espetáculo, mas a jornada do grupo. Como manter um público tão fiel?
O mais importante é fazer um teatro de qualidade, com o máximo rigor possível. Isso é sempre reconhecido pelo público. O Galpão desenvolve em suas inúmeras excursões, encontros, debates e oficinas, que aproximam o grupo dos artistas, de seus espectadores e também do público em geral. Isso é muito importante para estreitar as relações com o público e faz com que o Galpão seja uma referência para sucessivas gerações.
Vocês são referência para vários artistas. Gostaríamos de saber quais são as maiores referências do Grupo Galpão. Seja no teatro, na literatura, no cinema ou na música, o que inspira a companhia?
No teatro, as referências clássicas de Stanislavski, Brecht, Peter Brook, Eugenio Barba, Ariane Mnouchkine, Antunes Filho e tantos outros. Isso, sem falar nos diretores com quem trabalhamos e montamos espetáculos. A nossa linguagem teatral foi forjada a partir desses encontros com artistas como Fernando Linares, Paulinho Polika, Eid Ribeiro, Gabriel Villela, Cacá Carvalho, Paulo José, Paulo de Moraes, Yara de Novaes, Jurij Auschwitz e Marcio Abreu.
No cinema nossa maior influência veio de Federico Fellini e Nino Rota, além de grandes clássicos da dramaturgia universal que vão de Shakespeare e Molière até Tchékhov e Pirandello.
Após a celebração dos 35 anos em várias capitais brasileiras, quais são os projetos futuros?
Nosso próximo projeto será a montagem de um novo trabalho com direção do Marcio Abreu, com quem fizemos nosso último espetáculo, o “Nós”. Essa experiência foi tão marcante que, acredito, ainda temos muitas questões teatrais e humanas a pensar conjuntamente.
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