“Não importa de onde você vem, mas para onde você vai. E você pode ir para onde quiser”
Foi incentivado pela mãe, Maria Gorete, que Edu Lyra conseguiu o estímulo necessário para criar o que é hoje uma referência em empreendedorismo social no mundo: a ONG Gerando Falcões. Nascido em uma favela da grande São Paulo, Lyra começou vendendo, de porta em porta, o livro “Jovens Falcões”, de sua autoria. Com o dinheiro, fundou a entidade que já impactou mais de 700 mil pessoas em 5 mil favelas de 25 estados brasileiros.
Por mais que a sua história seja uma exceção nas comunidades do país, ele trabalha arduamente para mudar essa realidade: “eu não quero que um favelado vença. Quero que a favela vença de forma coletiva e integrada.” Acompanhe, a seguir, mais sobre esta grande história.
À frente da Rede Gerando Falcões você chamou a atenção de grandes executivos e empresas para a realidade dos jovens de comunidades carentes. Líderes como Jorge Paulo Lemann, Rubens Menin e Guilherme Benchimol, por exemplo, apoiam suas iniciativas. Várias outras lideranças elogiam sua conduta de gestão (inspirada no modelo Ambev). Como se deu a construção da conduta de gestão da Gerando Falcões e como foi o caminho até a mobilização das principais empresas do país?
A gente vem investindo em tecnologia e inovação há muito tempo. Investimos em plataforma, desenvolvimento de códigos, ampliação da capacidade de nuvem e formação do nosso time de Comunicação. Além disso, temos um leque de parceiros incríveis que, em momentos de crise, contribuem imensamente para disseminar a informação. Nessas horas sabemos quem criou bons times e relação de confiança com os doadores. A Gerando Falcões é auditada pela KPMG, com balanços e relatórios públicos. Somos transparentes com nossa base de doadores, e as pessoas percebem valor nisso. Durante a última campanha mobilizamos 44 mil doadores individuais e criamos uma instabilidade no sistema do banco. Ou seja, usando a tecnologia em plena potência para escalar soluções de impacto na ponta.
Apesar de homens e mulheres negras terem aumentado a sua presença nas universidades, apenas 3% chegam a cargos na diretoria ou gerência das empresas, segundo o IBGE. É consenso que investir em educação é a melhor forma de preparar os jovens das favelas para postos de liderança. Mas estar apto não basta, já que muitos perdem a disputa devido à discriminação. De líder para líder: como quebrar a barreira do preconceito nas empresas?
Precisamos aprender a lição inicial de cidadania e respeito ao próximo, inserindo com urgência a inclusão racial nos ideais da nossa sociedade. Não adianta apenas fazer um post no dia da Consciência Negra. É necessário estipular metas. Na Gerando Falcões, 70% da liderança total é feminina, e 63% de mulheres em cargos da alta liderança. No total, 39% de todos os funcionários são mulheres negras.
Por meio de um ecossistema de desenvolvimento social, envolvendo educação, emprego, esporte e cultura, a Rede Gerando Falcões vem mudando o destino de milhares de jovens que moram em favelas do Brasil. Fale mais sobre os bastidores dessa estratégia como forma de inspirar outros profissionais e empresas.
Para pensar em uma estratégia de longo prazo e ter força para colocá-la em prática, uma das nossas iniciativas foi expandir o nosso trabalho, compartilhando nosso conhecimento com outras ONGs que possuem o potencial de gerar transformação em seus territórios. Mais de mil líderes sociais se formaram na Falcons University.
Atualmente, temos quase 14 mil favelas no nosso país e, para que nosso trabalho seja relevante, precisamos de uma operação em alta escala. Além disso, é preciso ter um modelo com metas, indicadores de performance, rituais de gestão, tudo baseado em dados, e isso nos ajuda muito a pensar em soluções futuras.
Você é um grande exemplo, não só para jovens, mas para lideranças dos mais diversos setores. Na sua caminhada, quais foram as pessoas que te inspiraram?
Minha mãe sempre foi minha grande inspiração. Ela dizia sempre: “Não importa de onde você vem, mas pra onde você vai. E você pode ir para onde quiser”. E eu acreditei nisso. Minhas experiências de vida também serviram para eu pensar no meu propósito e missão. Perdi amigos para a violência, fui visitar meu pai no presídio por diversas vezes. Eu venci a pobreza na minha própria vida, agora quero vencê-la em escala com meu time e nossos parceiros. Eu não quero que um favelado vença. Quero que a favela vença de forma coletiva e integrada.
“A pobreza vai virar peça de museu”. Pensando no poder dessa mensagem, conte quais são os planos de futuro e desenvolvimento da rede Gerando Falcões.
Pretendemos levar a pobreza da favela ao museu, e não a favela em si. Nós queremos uma transformação completa, que é a proposta do Favela 3D (Digna, Digital e Desenvolvida), uma solução viável para a superação da pobreza no Brasil e que pode ser uma política pública para essa missão. Precisamos resolver os nossos problemas, que são urgentes e cruciais. Somos a última geração que tem a chance de mudar o futuro.