Artigo divulgado na edição mais recente da Harvard Business Review destaca que nos últimos 50 anos especialistas em liderança realizaram mais de mil estudos para tentar determinar traços de personalidade, características e estilos do grande líder. Porém, nenhum desses estudos gerou um perfil claro da liderança ideal. Para os autores – os estudiosos Bill George, Peter Sims, Andrew McLean e Diana Mayer -, felizmente as pesquisas não entregaram a “fórmula do líder perfeito”. Afinal, não há como ser autêntico seguindo receitas.
É importante aprender com a experiência alheia, ressaltam os especialistas, mas o profissional jamais terá sucesso se tentar ser como os outros. Eles acreditam que desenvolver as próprias habilidades, em sua forma genuína, e alcançar a autenticidade é um desafio e de fato exige um esforço pessoal muito grande. No entanto, os professores afirmam que todo mundo tem a capacidade de ser autêntico, de inspirar e assim fazer os outros crescerem. Mas como, enfim, chegar lá?
Para a presidente da Dasein, Adriana Prates, o primeiro caminho é a auto-exploração, a busca de quem se é no íntimo. Ela explica que não é um exercício fácil, requer empenho, esforço e abertura mental. “Muitas vezes, quando se entra no ‘vale das sombras’ e se depara com traços da própria personalidade, que não são dignos de se admirar, só conseguirá ser autentico aquele que conseguir confrontar essas verdades secretas e se desafiar a ser alguém melhor”, diz. “A partir desse avanço não se pode aceitar ser apenas uma cópia imperfeita de si mesmo. É preciso desenvolver uma prática de bons comportamentos, ter outros como exemplo, pois é nessa direção que o líder autêntico se movimenta”.
E o que é autenticidade para as próprias lideranças? Instigados pela questão, os autores do artigo da Harvard Business Review entrevistaram 125 dirigentes para entender como adquiriram a capacidade de liderar de forma autêntica. Essa pesquisa é hoje o maior estudo em profundidade sobre o desenvolvimento de liderança já realizado. Os entrevistados falaram abertamente sobre como atingiram seu potencial e mostraram com franqueza perdas e ganhos, lutas pessoais e histórias de vida.
O grupo participante incluiu homens e mulheres de diversas nacionalidades; origens raciais e socioeconômicas distintas; e idades que variam de 23 a 93 anos. Metade eram presidentes e todos altamente reconhecidos no mercado pela reputação, eficácia na liderança e autenticidade.
Após uma longa e elaborada análise, os pesquisadores concluíram que esses profissionais não apontavam nenhum estilo, talento ou característica universal na raiz de seu sucesso. A liderança autêntica emergia da história de vida de cada um deles. Os professores destacam que essas pessoas estavam constantemente testando a si mesmas por meio de experiências na vida real e se reformulando pra entenderem quem, no fundo, eram. Ao percorrerem esse caminho, essas pessoas descobriram o propósito de sua liderança e que a autenticidade as tornavam mais eficazes.
Outra característica marcante apurada na pesquisa é o poder de superação das lideranças. Elas nunca se fazem de vítima, pelo contrário. Usam as experiências negativas para darem sentido à própria vida. Adriana Prates relembra uma frase que ilustra bem esse dado “O que não me mata, me fortalece”. Entretanto, ela faz uma importante ponderação: “apesar de inspirador não é tão fácil assim. Após episódios difíceis na vida, grandes fracassos ou perdas, transformar essa dor numa motivação para se superar requer maturidade, sabedoria, humildade e perdão”.
Valorize seus princípios e invista no próprio desenvolvimento
Viver de acordo com os próprios valores (cultivando uma paixão por seus objetivos), trabalhar na superação dos pontos cegos e estar aberto a escutar aquilo que não gosta são traços incomuns apurados no estudo (Veja mais características no quadro ao lado). Adriana também destaca uma habilidade muito comum em lideranças autênticas: a relação saudável com o poder. “Esses profissionais têm a plena compreensão de que o poder precisa ser compartilhado. Conseguem ter alegria ao perceber que criaram sucessores, que o seu poder não vem apenas da própria compreensão, mas também de um reconhecimento explícito de como cada pessoa o ajudou em toda a trajetória de vida”.
De acordo com o estudo, o executivo não deve esperar que a empresa o apresente um plano de desenvolvimento. Ele deve ter a iniciativa de investir no autoconhecimento. Adriana Prates propõe uma reflexão sobre a seguinte analogia. “Se você fosse fazer uma cirurgia importante e ao entrar no bloco cirúrgico lesse num quadro em destaque a frase ‘Errar é Humano’. Como se sentiria? Continuaria ali de forma passiva? Se a reposta for positiva, está nessa mesma condição o profissional que delega à empresa ou a outra pessoa a responsabilidade sobre a sua carreira e sobre a sua vida e não toma nenhuma iniciativa, permitindo que o acaso, ou mesmo a sorte, possa assim o definir”.
A presidente da Dasein destaca ainda um aspecto extremamente importante: a sensibilidade. “É preciso ser alguém que toque o nosso coração. Quando se fala em lideres bem-sucedidos temos muitas vezes uma associação imediata com o sucesso financeiro que eles obtiveram, ou mesmo com grandes feitos e realizações. A fórmula para se inspirar corretamente é dinâmica e pessoal”.
Muitas vezes, Adriana Prates reforça, as lideranças autênticas são imperfeitas e controversas. Ela lembra como exemplo o industrial alemão Oskar Schindler, que ficou mundialmente conhecido pelo filme de Steven Spielberg “A lista de Schindler”, de 1993, obra inspirada em sua trajetória. Ele foi descrito como um empresário e negociante oportunista e fanfarrão, que de forma inesperada, conseguiu resgatar quase 1200 judeus da deportação para a morte em Auschwitz. Se empenhou vigorosamente para salvar a vida daqueles que ele escravizava.
“Exercer a autenticidade sempre requer uma atitude corajosa, uma mudança de direção, uma prova viva de que há um propósito maior em suas ações, na maioria das vezes movido por amor e compaixão”, frisa a dirigente.
Característica dos líderes autênticos
- Superam seus pontos cegos
- Usam as experiências negativas para dar sentido à própria vida
- Estão abertos ao feedback, sobretudo àquilo que não gostam de ouvir
- Trabalham suas inseguranças
- Vivem segundo seus valores e princípios
- Têm uma equipe de apoio composta não só por funcionários, mas por integrantes de sua família e amigos
- Dão poder a indivíduos de sua organização
- Sempre mantêm os pés no chão
- Compreendem que a liderança autêntica é a única maneira de gerar resultados sustentáveis a longo prazo